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25.12.11

#1 [Diz-nos o Rei Gaspar]

"Combinámos encontrar-nos no dia seguinte na gruta de Macpela, que abriga as tumbas de Adão, Eva, Abraão, Sara, Isaac, Rebeca, Lia e Jacob, em suma, um verdadeiro jazigo de família bíblica, no qual faltavam apenas as cinzas do próprio Iavé para estar completo. Se falo destas coisas de ânimo leve e de maneira irreverente, sendo no entanto veneráveis, é porque, indubitavelmente, as sinto muito longe de mim. As lendas vivem da nossa substância. Só contêm verdades através da cumplicidade dos nossos corações. Desde que não as reconheçamos como fazendo parte da nossa própria história, não são mais do que madeira morta e palha seca."

Michel Tournier 
In Gaspar, Belchior & Baltasar

20.12.11

#1 [o cego de Sevilha*]

(...)
O Cego de Sevilha é um romance policial que trata de um crime inusitado no qual, o assassino corta as pálpebras das suas vítimas para obrigá-las a ver aquilo que não querem enfrentar. É, então, apelidado pela opinião pública de “o cego de Sevilha”, devido à sua aparente obsessão pela visão perfeita.
(...)

Cláudia de Sousa Dias, aqui

* lido em castelhano

14.12.11

#1 [a memória dos sabores da memória]

"Uma pessoa quando é criança parece que tem a boca preparada para sabores bem diferentes sem serem muito picantes de arder na língua. São misturas que inventam uma poesia mastigada tipo segredos de fim de tarde. Era assim, antigamente, na casa da minha avó. No tempo da Madalena Kamussekele."

Ondjaki, in Os da Minha Rua*

*Comprado por 0,5€ no Mercado da Vandoma

2.12.11

#1 [Pornopopeia, take 2]

A falta de palavras com que me deparei para falar do Pornopopeia resolveu-se no artigo que Alexandra Lucas Coelho escreve assina hoje no ipsilon. Pode ser lido aqui.

30.11.11

#3 [razões para usar software livre ou livremente...]


" Em Maio de 2011, a Microsoft comprou a Skype, pelo valor de 8,5 mil milhões de dólares, com dinheiro na mão. A aquisição da maior telefónica da internet constituiu uma verdadeira lição de contabilidade offshore. Todos ficaram a ganhar, menos o Tesouro dos Estados Unidos, que é o grande perdedor deste negócio de milhões.
(…)
As multinacionais que vivem preocupadas com os prejuízos resultantes de downloads e cópias ilegais de software, deviam lembrar-se que, há muito tempo, se dedicam à pirataria fiscal através de plataformas offshore." 

João Pedro Martins, in Suite 605, pp 26 e 27

14.10.11

#1 [para desenjoar]


Henry Wilt é um (estéreo)tipo disfuncional das terras de sua majestade, com humor qb e um jeito desgraçado para se meter em sarilhos.
Numa noite de copos casou-se com Eva, uma pussidónia que diz género em vez de sexo mesmo quando está a falar de sexo e não de género, e arranjou 4 filhas gémeas que são, no mínimo, psicopatas.
A saga desta família tem vindo a ser escrita por Tom Sharpe desde 1979. O último tomo – o legado de Wilt, não é genial ou inovador, mas, em tempo de austeridade e muita horas à volta da tese, dá para manter a boa disposição.

22.9.11

#1 [a inquisição, novamente]

Século XIV. A cidade de Barcelona encontra-se no auge da prosperidade; cresceu até ao humilde bairro dos pescadores, cujos habitantes decidem construir, com o dinheiro de uns e o esforço de outros, o maior templo mariano conhecido: Santa Maria do Mar. Uma construção paralela à desditosa história de Arnau, um servo da terra que foge dos abusos do seu senhor feudal e que se refugia em Barcelona. Daqui se torna cidadão e, assim, num homem livre. O jovem Arnau trabalha como estivador, palafreneiro, soldado e cambista. Uma vida extenuante, sempre à sombra da Catedral do Mar, que o tirará da condição miserável de fugitivo para lhe dar nobreza e riqueza. Mas com esta posição privilegiada chega também a inveja dos seus pares, que tramam uma sórdida conspiração que põe a sua vida nas mãos da Inquisição... Lealdade e vingança, traição e amor, guerra e peste, num mundo marcado pela intolerância religiosa, a ambição material e a segregação social. Um romance absorvente, mas também uma fascinante e ambiciosa recreação das luzes e sombras do mundo feudal.

A Catedral do Mar de Ildefonso Falcones

3.9.11

#1
[livro 25]

Vendo que as guardas se encontravam ocupadas com a Roya, a Senhora Moradi, que caminhava atrás de mim na fila, disse-me baixinho que durante o dia anterior tinham pendurado o filho no tecto, de cabeça para baixo, e tinham-na forçado a estar presente.
Por fim, não conseguindo tolerar mais aquele espectáculo, correu para o filho para o soltar. Foi quando lhe chicotearam o rosto.
"Que é que vocês querem saber, hem?" gritei-lhes eu. "tragam-no para baixo e digo-lhes o que quiserem saber."
"Puxaram-no para baixo?"
"Puxaram. Mas ele tinha desmaiado. Vão voltar a chamar-me, logo que ele volte a estar consciente."
"Que é que eles querem arrancar de ti?"
"Querem nomes, minha querida. Nomes de amigos do meu filho. E eu quero o meu filho. Ele vai morrer sem lhes dizer uma palavra. Se ele não ceder, eu não cedo."
"E se ele ceder?"
"Eu continuarei a não ceder."

In O Balneário,
Farnoosh Moshiri

29.8.11

#2
[O Anatomista]

Como se costuma dizer, não há duas sem três, pelo que lá voltei a tropeçar na inquisição.
O argentino Federico Andahazi novelou a vida de Matteo Realdo Colombo, anatomista que deixou um significativo legado à humanidade pelas descobertas que fez sobre o corpo humano, registadas na obra "De Re Anatomicâ Libri XV".
Entre as suas observações e descobertas, destacam-se a descrição pormenorizada e correcta da circulação pulmonar, corrigindo alguns erros de anteriores observações, ou o cristalino do olho.
Outra das suas descobertas de relevo foi a da existência do clitóris, que valeu a inscrição do livro no index da santa madre igreja, factos que a enciclopédia católica omite...
#1
[A Criada]
Um enredo amoroso ou talvez um conjunto de triangulações cujos vértices são a existência, a solidão, as relações entre as pessoas, o sexo, o amor, as vidas paralelas que cada um de nós vive ou julga viver. Eis A Criada, de Isabel Marie.

14.8.11


#1
[O Segredo de Barcarrota]
Sérgio Luís de Carvalho (site do autor) faz uso do seu estatuto de historiador para escrever romances históricos. E fá-lo com sábia mestria.
Dele já tinha lido O Destino do Capitão Blanc, onde se relatam as agruras do Corpo Expedicionário Português nos campos de batalha franceses durante a primeira guerra e os trágicos (e pouco conhecidos) acontecimentos ocorridos na hora que precedeu a entrada em vigor do cessar fogo daquele conflito.
Cruzei-me com o autor recentemente, numa sessão de apresentação do seu mais recente livro. Decidi-me desvendar O Segredo de Barcarrota depois de o ouvir falar dessa estória passada no século XVI, construída sobre personagens reais e com as perseguições dos judeus na península, movida pela inquisição, como pano de fundo.

30.7.11

#2
[A pele do tambor]

A recente polémica sobre um pretenso plágio não abrandou o meu entusiasmo com a escrita de Arturo Pérez-Reverte, uma voz incontornável na literatura contemporânea no Estado Espanhol.
Depois de, em tempos, ter lido A Rainha do Sul e, mais tarde, me ter deliciado com O Pintor de Batalhas, agora ando às voltas com A Pele do Tambor, um policial que mete padres e hackers, especuladores e uma igreja barroca, as ruas, os bares e os cheiros de Sevilha e, sobretudo, os misteriosos e insondáveis caminhos da fé (e da falta dela).
Desta vez optei pela versão original, em castelhano. O ritmo é mais lento, mas a leitura fica, porventura, mais saborosa.

11.7.11

#1
[Apesar de mais lenta, a lista cresce]

Mistura em “O Romance da Minha Vida” realidade e ficção. Como consegue dosear estas duas vertentes?
Na parte em que se narra a vida de Heredia, está narrado na primeira pessoa. Hoje em dia, ao ler o romance, anos depois de o ter terminado, há momentos em que já não sei distinguir a ficção da realidade. Porque misturo tudo, é uma das vantagens do romancista que não tem o historiador. Este tem de trabalhar com dados, documentos e provar esses dados. O romancista pode ficcionar a partir de uma realidade. O que é certo é que todos os elementos que aparecem no romance ou aconteceram ou podem ter acontecido, conforme o provam as minhas investigações, que foram bastante profundas.

Leonardo Padura em entrevista

11.6.11

#1

[...]

Um dia olhei-o fundo nos olhos. Estendi-lhe o livro e, tremendo, declarei: compañero.

Algo se quebrou ali dentro, alterando a modorrenta rotina dos autógrafos. E, se não chegasse o brilho que lhe cresceu no olhar, o tremor com que agarrou o volume ou a voz sussurrante com que me falou, esta inesperada turbulência confirmou-se na posterior comparação da minha dedicatória com as de quem me acompanhava nessa peregrinação: foi a única que saiu da pauta.

Sepúlveda ensinou-me muito. A paixão pela patagónica imensidão do sul nasceu-me das suas mãos. O humor desconcertante de quem sofre e ainda se ri, a dignidade dos vencidos e das vencidas, a urgência de um amor que pode durar um fósforo ou uma vida. O vício das viagens. A babélica relação que, num qualquer ponto do planeta, podemos estabelecer com a mais inesperada pessoa: três palavras cruzadas, dois silêncios, um copo tocado, petiscos diversos, o prazer da risada ou a emoção de um jogo de bola. Ainda ensina.

Não resisto ao estilo mordaz, inverosímil. Às frases curtas, cheias de poesia, de filosofia, de despretensão. Às narrativas oblíquas, em volumes pequenos e sucintos, cheios de mundos e de fins de mundo, de cidades e selvas, de periferias da humanidade. Ao desvendar dos fantasmas que carregamos e aos diálogos com companheiros que estão do outro lado do espelho.

E depois há também as referências literárias, gastronómicas, geográficas ou políticas. E a estúpida sensação que um outro mundo não só é possível como existe, debaixo da aparência de normalidade que este transporta.

Pensei em tudo isto hoje, enquanto relia, de um tiro, o Diário de Um Killler Sentimental, procurando uma história de amor que, afinal, não estava ali. A certa altura, quase sem me aperceber, puxei da habitual prece: Obrigado compañero, vale sempre a pena voltar aqui.

6.6.11

#2
[dignidade]

“Passados estes seis anos, a irmã mais velha do socialismo e as suas instituições de poder em Praga, que fizeram de Alexander Dubcek um jardineiro, decidem chamar Emil à capital com a ideia de o promoverem, fazendo dele empregado do lixo. Esta parece uma ideia verdadeiramente boa, uma história para o humilhar, mas rapidamente se revela não ser tão boa quanto isso. Para começar, quando percorre as ruas da cidade atrás do caixote com a sua vassoura, a população reconhece imediatamente Emil, toda a gente vai à janela para o ovacionar. Depois, os seus camaradas de trabalho recusam que ele recolha o lixo e o próprio contenta-se em correr com uma passada curta atrás do camião, debaixo de encorajamentos, como dantes. Todas as manhãs, aquando da sua passagem, os habitantes do bairro destinado à sua equipa de limpeza descem até ao passeio para o aplaudirem, esvaziando o seu próprio lixo no respectivo caixote. Nunca nenhum empregado do lixo do mundo terá sido tão aclamado. Do ponto de vista das instituições do poder, a operação é um fracasso”

Jean Echenoz in Correr

saber mais sobre Emil Zatopek

29.5.11

#1
[enquanto repousava...]

Como tantas outras vezes na sua vida, a política encarregou-se de o abalar e de lhe recordar que nem a possibilidade do mais breve repouso tinha sido concedida a Prometeu e aos que ousassem permanecer perto da sua rocha. Aquela era a sina que o perseguiria até ao último dia da sua vida.

Leonardo Padura in
O Homem Que Gostava de Cães

15.5.11

#1
[6 graus de separação (menos de)]

Alguém me confidenciou, um dia destes, que "não sei quem contou ao Agualusa, mas aquilo era mesmo assim". Pus-me a reler a Estação das Chuvas.
E eis que tropeço novamente na poesia de Lídia Carmo Ferreira, em torno de quem se desenvolve a história. E porque me deixou água na boca, decido perguntar ao Google algo mais sobre a senhora (se me disseram que era mesmo assim...). só encontrei referências ao livro.
Vai daí, passo à ajuda do telefone e mando um SMS ao meu amigo Juca, grande conhecedor destas e de outras "makas" que envolvem a história e a cultura angolana.
Maravilhas da hipercomunicabilidade, a resposta demorou dez minutos. Mas é esclarecedora: "O próprio disse-me agora que é inventada".
Não resisti: "diz-lhe que, mesmo inventada, escreve uns belos versos".

26.4.11

#1

[...]

Os telegramas tornaram-se então o nosso único recurso. Seres ligados pela inteligência, pelo coração ou pela carne ficaram reduzidos a procurar os sinais desta comunhão antiga nas maiúsculas de um telegrama de dez palavras. E como, na realidade, as fórmulas que se podem utilizar num telegrama se esgotam depressa, longas vidas em comum ou paixões dolorosas resumiram-se rapidamente a uma troca periódica de fórmulas feitas, como «Estou bem. Penso em ti. Saudades».

Alber Camus in A Peste

24.4.11

#2
[Parece simples...]


Para concluir, volto ao tema do subtítulo deste livro: trabalho e capital na era do FMI. Escrevi no início que o FMI se dedica, desde há muitos anos, a forçar ajustamentos económicos cuja chave é a redução duradoura dos salários. Essa ideia tornou-se o dogma dominante da política económica europeia. É aplicada na Grécia, na Irlanda, em Portugal e em Espanha. O que o FMI propõe, portanto, é reconstruir a economia com o aumento da exploração. É a solução da teoria económica, acrescentará algum dos mandantes.

16.4.11

#1
[...]

Mesmo ao ritmo de um livro por dia, depois de, vá lá, 90 anos de frenética actividade, ainda ficariam muitos por ler.
Não me aproximando eu deste (impossível) patamar de leitura, deixarei muitas páginas por folhear. Ainda assim, insisto em arranjar um tempito para reler qualquer coisa.
Esta semana foram dois volumes: O Estrangeiro, de Camus, e Betânia, o segundo (e muito esquecido) romance de Filomena Marona Beja.
Pelo meio ainda me fui entretendo com o último do Francisco Louçã, mas tenho de lhe dar mais umas voltas até dar a missão por cumprida (espero que ele não escreva outro entretanto).