[Parece simples...]
Para concluir, volto ao tema do subtítulo deste livro: trabalho e capital na era do FMI. Escrevi no início que o FMI se dedica, desde há muitos anos, a forçar ajustamentos económicos cuja chave é a redução duradoura dos salários. Essa ideia tornou-se o dogma dominante da política económica europeia. É aplicada na Grécia, na Irlanda, em Portugal e em Espanha. O que o FMI propõe, portanto, é reconstruir a economia com o aumento da exploração. É a solução da teoria económica, acrescentará algum dos mandantes.
Lembremos então os fundamentos da teoria económica. Na primeira frase da primeira página do seu Inquérito sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações, Adam Smith escreve: «O trabalho anual de uma nação é o fundo de que provêm originariamente todos os bens necessários à vida e ao conforto que a nação anualmente consome, e que consistem sempre ou em produtos imediatos desse trabalho, ou em bens adquiridos às outras nações em troca deles». É o trabalho que cria o produto e a riqueza. Todo o produto e toda a riqueza, precisa Adam Smith. A economia capitalista baseia-se na exploração deste trabalho que produz todo o produto e toda a riqueza.
O que a solução CLB* nos propõe, como tantos dos livros e da teoria económica e certamente os mais poderosos dos governantes e dos banqueiros centrais da Europa, bem como o FMI, é que se reduzam os salários, ou seja, se aumente a exploração, para recuperar as economias abaladas pela especulação financeira, pela ganância e pelo roubo. Para lhes responder, não basta portanto uma ideia para uma economia decente: é necessária uma revolução cidadã, uma resposta social em nome dessa grande maioria que são os trabalhadores com contrato, os precários sem contrato, os desempregados sem futuro e os pobres sem vida. A vitória de uma política socialista depende simplesmente dessa maioria.
Francisco Louçã in Portugal Agrilhoado, A economia cruel na era do FMI
*CLB = Carreira (Medina), Leite (António Pinto), Bento (Vítor)