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14.1.17

#1 [contributos para a nissologia]

(...)
Fala como se não fosse daqui.
Sou completamente daqui, contestou. Deu um longo gole na cerveja e limpou o bigode com o polegar. Sou tão daqui que não me imaginava a viver em terra firme.
Terra firme?
Desculpe. É a doença da insularidade. Para mim, uma ilha é um lugar em movimento. Na minha cabeça, todos os dias nos afastamos ou aproximamos um bocadinho da península. Dependendo dos ventos e das vontades. São tenazes, deixam-me à deriva.
Também me tem sucedido, disse eu. Parece que, neste lugar, sonhamos com maior clareza e intensidade.
Talvez seja isso.
(...)

João Tordo, in O Luto de Elias Gro

22.3.16

#[o bom inverno]

Uma foto publicada por André Beja (@metrografista) a

28.10.15

#1[anatomia dos mártires]

 

João Tordo aventurou-se a ficcionar sobre uma história que se tornou mito, arriscando-se, como a personagem do seu livro, a ser mal compreendido e ostracizado por quem se agarrou à memória de Catarina Eufémia como uma bandeira ou por aqueles que, 60 anos depois, ainda se dedicam a branquear a história do fascismo português e da repressão que os alentejanos e as alentejanas sofreram na pele. 
Pese a incerteza sobe a verdadeira história de Catarina - o episódio está pouco documentado, tendo sobrevivido graças à tradição oral, em versões que variam entre a heróica militante do PCP assassinada pela sua condição e a vítima de uma bala acidental - Tordo consegue traçar um bom retrato de alguém que, em busca de comida para os filhos, ousou levantar-se do chão. Ao mesmo tempo, tira a medida a outros e outras que, voluntária ou involuntariamente, alimentam e são mártires da crise que, nestes tempos canalhas, nos calhou. 

21.5.14

#1 [funanbulismo... ]



Ainda hoje, sempre que o mundo se apresenta como um espectáculo enfadonho e miserável, sou incapaz de resistir à tentação de relembrar o tempo em que, por força da necessidade, fui obrigado a aprender a difícil arte do funambulismo. 

João Tordo in 
"As três Vidas"

2.1.14

#1 [O ano sabático]

O primeiro dia do ano foi passado com o João Tordo e das vidas paralelas de Hugo e Luís.
O autor confirmou a boa impressão que já me deixara. Resta-me agora saborear as camadas deste livro que, em apenas 206 páginas, guarda vidas, inquietações e muita poesia.

26.2.12

#1 [Hotel Memória]

Já por várias vezes me tinha perguntado se os livros de João Tordo teriam realmente interesse. Apesar do prémio Saramago ser um bom indicador, confesso que nunca lhes prestei grande atenção e que de todas as vezes que, numa livraria, passei os olhos pela sua lombada não me despertaram curiosidade.
Um dia destes, e porque ouvira alguém que considero um grande leitor referir positivamente O Bom Inverno, decidi arriscar. Comprei o Hotel Memória (o seu segundo romance) em segunda mão e cá vai disto.
A aparente simplicidade da escrita prendeu-me mais depressa do que podia imaginar quando comecei a ler. O estilo curto e escorreito não deixa adivinhar a riqueza de um policial bem construído, cheio de referências literárias e musicais, com o Jazz, o Fado e Nova Iorque em pano de fundo.
E é um livro que, fazendo justiça ao título, me evocou memórias: o cheiro da primavera a começar na cidade que não dorme ou o A Room At The Heartbreak Hotel, música que não tem nada a ver com a esta história mas que também poderia entrar na sua banda sonora.