14.8.11


#1
[O Segredo de Barcarrota]
Sérgio Luís de Carvalho (site do autor) faz uso do seu estatuto de historiador para escrever romances históricos. E fá-lo com sábia mestria.
Dele já tinha lido O Destino do Capitão Blanc, onde se relatam as agruras do Corpo Expedicionário Português nos campos de batalha franceses durante a primeira guerra e os trágicos (e pouco conhecidos) acontecimentos ocorridos na hora que precedeu a entrada em vigor do cessar fogo daquele conflito.
Cruzei-me com o autor recentemente, numa sessão de apresentação do seu mais recente livro. Decidi-me desvendar O Segredo de Barcarrota depois de o ouvir falar dessa estória passada no século XVI, construída sobre personagens reais e com as perseguições dos judeus na península, movida pela inquisição, como pano de fundo.
A obra foi motivada pela descoberta, em 1992, de um conjunto de 10 livros que, talvez por estarem inscritos no primeiro índex compilado pela inquisição espanhola, foram diligentemente escondidos num compartimento dissimulado nas paredes da casa de Don Francisco Penharanda, médico de Barcarrota (saber mais aqui), onde permaneceram durante séculos.
Tal como no livro que li antes, A Pele do Tambor, também a polícia espiritual, os tortuosos caminhos da fé (a da falta da mesma) e a arrogância divina andam à solta neste volume - é a tal conversa das linhas cruzadas.
Há também um padre que fala com o diabo e um outro que, parece-me cá, o incarna – e pronto, dei comigo a pensar (oh blasfemo!) que se o tal todo poderoso se arroga de estar em todas as coisas, então, em todas as suas contradições, também se dará ao luxo de ser o outro...
A ver se o próximo livro dá para aliviar um bocadinho da padralhada :)
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