Às vezes pergunto-me como será isso de estar preso. Um,
dois, três, sete, dez, vinte anos… Por mais voltas à cabeça, não consigo
imaginar o que será isso de uma vida de claustrofobia, de privação, de falta de
contacto com a realidade, sem direito a gestos e pequenos prazeres que fazem parte
dos dias.
As prisões dão-nos algum conforto emocional mas devem ser
questionadas. No seu “Odeio as Manhãs” Jean Marc Rouillan ajuda–nos nessa
tarefa, mostrando que, mais do que uma ferramenta necessária à regulação da
sociedade, estas instituições são instrumento
da violência de Estado, garantem o seu funcionamento e, de certa forma, o perpetuar
os poderes instituídos.
Militante comprometido com uma transformação da sociedade
por via da violência, Rouillan (n. 1952), passou mais tempo da sua vida em
reclusão carcerária. O seu testemunho fala-nos das arbitrariedades, da teia burocrática, das
diferenças de tratamento consoante a classe e da vingança exercída por quem ousou questionar, dos inocentes e daqueles que, por
iliteracia ou qualquer outra razão, ficam enleados nas malhas da rede sem se
conseguirem soltar.
No fim da leitura, a mesma inquietação, a mesma sede insasiável, a mesma pergunta sem
resposta: liberdade, onde estás?
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