Nos últimos dias andei de volta d' O Meu Amante de Domingo.
Foi o primeiro contacto com o registo "para lá da crónica" de Alexandra Lucas Coelho - ainda não li o romance
inaugural –, mas logo reconheci o seu charme pós moderno ou o ritmo torrencial e (agaora também) tropicalista.
O texto transpira os dias que passam, pejada de
presente e de coisa efémeras, assente num substrato riquíssimo, que permite
diferentes leituras e que projecta o Amante para lá do domingo e para lá desse
2014 em que se situa.
Até aqui vai tudo
bem, o importante é como aterramos. Mas, enquanto avançava em direcção a Carnide,
dei comigo a desenhar um paralelo entre este Amante
e a Pornopopeia de Reinaldo Moraes.
Com
uma clara diferença de escala – talvez
pelo tamanho do livro ou pela pequenez do eixo Lisboa/Alentejo quando comparado
com S. Paulo -, a comparação impôs-se-me em jeito de inquietação. A coincidência está não só no fio condutor, que tresanda a sacanagem, e na linguagem coloquial
e no tratar o sexo na primeira pessoa (ou na variante nasalada de Cascais), mas
também na forma da história dentro da história, nas marcas de contemporaneidade
e de existencialismo apimentadas com literatura e clássicos, no confronto geracional
das ideias e dos corpos.
E está nos percursos de Zeca e da Cinquentona Cool: Ele alimentado a coca, procura escrever um
comercial perfeito enquanto desenrola o script da sua existência, ao passo que ela,
movida a ressentimento, entra pelo romance procurando destilar o ódio. Para
ambos, o prazer impõe-se como caminho da redenção.
Embora habituado (e rendido) ao estilo
poético jornalístico de ALC, confesso-me, ao
mesmo tempo, surpreendido e desconcertado com o Amante, sem saber ao certo do que mais gostei.