28.12.14

#1 [uma questão de escala?]


Nos últimos dias andei de volta d' O Meu Amante de Domingo. Foi o primeiro contacto com o registo "para lá da crónica" de Alexandra Lucas Coelho - ainda não li o romance inaugural –, mas logo reconheci o seu charme pós moderno ou o ritmo torrencial e (agaora também) tropicalista.  
O texto transpira os dias que passam, pejada de presente e de coisa efémeras, assente num substrato riquíssimo, que permite diferentes leituras e que projecta o Amante para lá do domingo e para lá desse 2014 em que se situa.
Até aqui vai tudo bem, o importante é como aterramos. Mas, enquanto avançava em direcção a Carnide, dei comigo a desenhar um paralelo entre este Amante e a Pornopopeia de Reinaldo Moraes. 
Com uma clara diferença de escala – talvez pelo tamanho do livro ou pela pequenez do eixo Lisboa/Alentejo quando comparado com S. Paulo -, a comparação impôs-se-me em jeito de inquietação. A coincidência está não só no fio condutor, que tresanda a sacanagem, e na linguagem coloquial e no tratar o sexo na primeira pessoa (ou na variante nasalada de Cascais), mas também na forma da história dentro da história, nas marcas de contemporaneidade e de existencialismo apimentadas com literatura e clássicos, no confronto geracional das ideias e dos corpos.
E está nos percursos de Zeca e da Cinquentona Cool: Ele alimentado a coca, procura escrever um comercial perfeito enquanto desenrola o script da sua existência, ao passo que ela, movida a ressentimento, entra pelo romance procurando destilar o ódio. Para ambos, o prazer impõe-se como caminho da redenção.
Embora habituado (e rendido) ao estilo poético jornalístico de ALC, confesso-me, ao mesmo tempo, surpreendido e desconcertado com o Amante, sem saber ao certo do que mais gostei.