#2
[o nono sense dos outros]
a minha pátria não é a minha língua.
a minha pátria são os meus afectos.
a minha pátria começa nas minhas mãos
e tem nas tuas a única fronteira.
as nossas mãos dadas não precisam de palavras
e por isso escrevem-se do mesma maneira
em qualquer língua. (enganou-se
o poeta. os poetas enganam-se muitas vezes.
mas a poesia é isso mesmo - uma procura
e muitos erros.)
obrigadinho pedro
30.8.05
#1
[a loucura...]
hoje tive uma surpresa inquietante... o hotmail alargou a capacidade da sua caixa de correio de 2 para 25 megas! doidões! generosos! malukos! beneméritos! visionários!!!!
Aposto que o yahoo e o gmail estão cheios de medo que esta atempada medida, esta jogada de antecipação (!), me faça fechar as contas que ali tenho... obrigadinho bill gates!
[a loucura...]
hoje tive uma surpresa inquietante... o hotmail alargou a capacidade da sua caixa de correio de 2 para 25 megas! doidões! generosos! malukos! beneméritos! visionários!!!!
Aposto que o yahoo e o gmail estão cheios de medo que esta atempada medida, esta jogada de antecipação (!), me faça fechar as contas que ali tenho... obrigadinho bill gates!
29.8.05
26.8.05
25.8.05
#2
[paridos irmãos]
no numero de hoje do avante há referencia aos partidos irmãos do pcp que estarão representados na festa deste ano. Como não podia deixar de ser, entre muitos encontram-se esses mui comunistas e democratas PCChinês e o MPLA.
A novidade é que, na lista, falta um habitué, o PC da Coreia Norte... será que o pcp finalemnete percebeu, ou têm apenas vergonha de admitir que estes progressistas de olho em bico também têm lugar marcado na atalaia?
[paridos irmãos]
no numero de hoje do avante há referencia aos partidos irmãos do pcp que estarão representados na festa deste ano. Como não podia deixar de ser, entre muitos encontram-se esses mui comunistas e democratas PCChinês e o MPLA.
A novidade é que, na lista, falta um habitué, o PC da Coreia Norte... será que o pcp finalemnete percebeu, ou têm apenas vergonha de admitir que estes progressistas de olho em bico também têm lugar marcado na atalaia?
24.8.05
#2
[vistas largas]
Como vão os palestinianos responder à retirada unilateral israelita?
Amos Oz, Escritor israelita
in Público, 24 de Agosto 2005
Os colonos judeus na Faixa de Gaza e na Cisjordânia têm um sonho para o futuro de Israel. Também eu tenho um sonho para o futuro de Israel. Mas o doce sonho deles é o meu pesadelo, enquanto os meus sonhos são, para eles, veneno.
O sonho dos colonos é criar um "Grande Israel" com colonatos judaicos colados uns aos outros. Nesses colonatos só os judeus podem viver e os palestinianos só lá podem trabalhar, empregos modestos com salários baixos. Num Estado assim, a democracia teria de se submeter aos rabis. O Knesset [Parlamento], o Governo, o Supremo Tribunal só seriam autorizados a existir se os rabis aprovassem as suas decisões. Os colonos acreditam que, logo que o Grande Israel se torne numa entidade religiosa e numa "Nação Sagrada", o Messias virá e a total redenção do povo judeu se materializará.
Nesta fantasia dos colonos não há lugar para o povo palestiniano excepto como humildes servos e trabalhadores agradecidos. Mais, na fantasia dos colonos não há lugar para mim, não há lugar para um Israel secular, moderno. Eu e os meus amigos estamos "fora" a não ser que nos arrependamos. Pelo menos não devemos ser obstáculo à construção de mais colonatos nem à expansão dos que já existem. Se nós, israelitas laicos, apagarmos a nossa própria existência, os colonos farão cair sobre nós o seu amor fraterno. Mas se insistirmos que temos uma visão diferente para Israel, imediatamente nos tornaremos traidores, amigos dos árabes, ou até nazis.
No entanto, também nós temos um sonho para Israel, totalmente diferente da fantasia religiosa dos colonos. Queremos viver em paz e em liberdade, mas não sob o poder dos rabis, nem sequer sob o poder do Messias, mas sujeitos a um governo eleito por nós.
Temos um sonho de nos libertarmos da longa ocupação dos territórios palestinianos. Israel e Palestina são, há quase 40 anos, como um carcereiro e um prisioneiro, algemados um ao outro. Depois de tantos anos já quase não há diferença - o carcereiro não é livre e o prisioneiro não é livre. Israel só será uma nação livre quando acabarem a ocupação e os colonatos e a Palestina se tornar um país vizinho independente.
Há 30 anos que os colonos controlam Israel através de vários governos. Eles impuseram a sua visão e esmagaram os nossos sonhos. Eles eram os senhores do país.
O primeiro-ministro Ariel Sharon anda por estes dias a tentar lançar uma espécie de putsch contra o poder dos colonos. Esta é uma tentativa de restaurar a autoridade do governo eleito. Se isto resultar, o sonho dos colonos poderá ser bloqueado e a visão dos israelitas seculares poderá reviver.
A luta em Gaza não é, no essencial, uma luta entre o exército e os colonos, nem sequer entre "falcões" e "pombas". Não. É uma luta entre Igreja e Estado (para ser mais fiel, entre Sinagoga e Estado). Isto é algo por que passaram muitas nações: quais devem ser a posição e a influência da religião e dos clérigos na governação de um país? Alguns países já resolveram isto há séculos. Outras nações andam a tentar resolver isto há tempos infindáveis. O mundo muçulmano, à excepção da Turquia, nem sequer começou.
Nestes últimos dias, em Gaza, testemunhámos o que pode, em retrospectiva, ser a primeira batalha entre a Sinagoga e o Estado em Israel, o primeiro confronto sobre o carácter judaico do único Estado judaico. Somos nós, acima de tudo, uma religião, ou somos nós, acima de tudo, uma nação?
Neste primeiro round parece que o Israel pragmático, racional, secular prevaleceu dolorosamente sobre o Israel fanático. Mas não esqueçamos de que este é apenas o primeiro round. Os colonos e os outros israelitas como nós podem sentir-se orgulhosos com o facto de, ao contrário de muitas guerras sangrentas entre a Igreja e o Estado em vários países, ao longo da História, o primeiro round em Gaza ter sido violento mas não mortífero. Houve muita fúria e ruído mas não massacre. As outras fases serão assim? Será assim quando chegar a altura de desistir da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental em troca da paz com os palestinianos? Estas questões dependem não só dos israelitas, religiosos e laicos, "falcões" e "pombas", da esquerda e da direita.
Estas questões dependem muito da resposta dos palestinianos. Será que os palestinianos olham para tudo isto como um corajoso passo de Israel em direcção a um compromisso histórico com eles? Irão eles retribuir dando passos corajosos em relação aos seus próprios fanáticos? Ou será que eles olham para os confrontos entre judeus e judeus como o primeiro síndroma da desintegração de Israel e vão tentar inflamar a situação interna israelita lançando uma nova vaga de violência e terrorismo?
Diz um velho provérbio árabe que "não se bate palmas só com uma mão". Muito vai depender do modo como os palestinianos interpretarão a luta entre judeus e judeus em Gaza.
[vistas largas]
Como vão os palestinianos responder à retirada unilateral israelita?
Amos Oz, Escritor israelita
in Público, 24 de Agosto 2005
Os colonos judeus na Faixa de Gaza e na Cisjordânia têm um sonho para o futuro de Israel. Também eu tenho um sonho para o futuro de Israel. Mas o doce sonho deles é o meu pesadelo, enquanto os meus sonhos são, para eles, veneno.
O sonho dos colonos é criar um "Grande Israel" com colonatos judaicos colados uns aos outros. Nesses colonatos só os judeus podem viver e os palestinianos só lá podem trabalhar, empregos modestos com salários baixos. Num Estado assim, a democracia teria de se submeter aos rabis. O Knesset [Parlamento], o Governo, o Supremo Tribunal só seriam autorizados a existir se os rabis aprovassem as suas decisões. Os colonos acreditam que, logo que o Grande Israel se torne numa entidade religiosa e numa "Nação Sagrada", o Messias virá e a total redenção do povo judeu se materializará.
Nesta fantasia dos colonos não há lugar para o povo palestiniano excepto como humildes servos e trabalhadores agradecidos. Mais, na fantasia dos colonos não há lugar para mim, não há lugar para um Israel secular, moderno. Eu e os meus amigos estamos "fora" a não ser que nos arrependamos. Pelo menos não devemos ser obstáculo à construção de mais colonatos nem à expansão dos que já existem. Se nós, israelitas laicos, apagarmos a nossa própria existência, os colonos farão cair sobre nós o seu amor fraterno. Mas se insistirmos que temos uma visão diferente para Israel, imediatamente nos tornaremos traidores, amigos dos árabes, ou até nazis.
No entanto, também nós temos um sonho para Israel, totalmente diferente da fantasia religiosa dos colonos. Queremos viver em paz e em liberdade, mas não sob o poder dos rabis, nem sequer sob o poder do Messias, mas sujeitos a um governo eleito por nós.
Temos um sonho de nos libertarmos da longa ocupação dos territórios palestinianos. Israel e Palestina são, há quase 40 anos, como um carcereiro e um prisioneiro, algemados um ao outro. Depois de tantos anos já quase não há diferença - o carcereiro não é livre e o prisioneiro não é livre. Israel só será uma nação livre quando acabarem a ocupação e os colonatos e a Palestina se tornar um país vizinho independente.
Há 30 anos que os colonos controlam Israel através de vários governos. Eles impuseram a sua visão e esmagaram os nossos sonhos. Eles eram os senhores do país.
O primeiro-ministro Ariel Sharon anda por estes dias a tentar lançar uma espécie de putsch contra o poder dos colonos. Esta é uma tentativa de restaurar a autoridade do governo eleito. Se isto resultar, o sonho dos colonos poderá ser bloqueado e a visão dos israelitas seculares poderá reviver.
A luta em Gaza não é, no essencial, uma luta entre o exército e os colonos, nem sequer entre "falcões" e "pombas". Não. É uma luta entre Igreja e Estado (para ser mais fiel, entre Sinagoga e Estado). Isto é algo por que passaram muitas nações: quais devem ser a posição e a influência da religião e dos clérigos na governação de um país? Alguns países já resolveram isto há séculos. Outras nações andam a tentar resolver isto há tempos infindáveis. O mundo muçulmano, à excepção da Turquia, nem sequer começou.
Nestes últimos dias, em Gaza, testemunhámos o que pode, em retrospectiva, ser a primeira batalha entre a Sinagoga e o Estado em Israel, o primeiro confronto sobre o carácter judaico do único Estado judaico. Somos nós, acima de tudo, uma religião, ou somos nós, acima de tudo, uma nação?
Neste primeiro round parece que o Israel pragmático, racional, secular prevaleceu dolorosamente sobre o Israel fanático. Mas não esqueçamos de que este é apenas o primeiro round. Os colonos e os outros israelitas como nós podem sentir-se orgulhosos com o facto de, ao contrário de muitas guerras sangrentas entre a Igreja e o Estado em vários países, ao longo da História, o primeiro round em Gaza ter sido violento mas não mortífero. Houve muita fúria e ruído mas não massacre. As outras fases serão assim? Será assim quando chegar a altura de desistir da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental em troca da paz com os palestinianos? Estas questões dependem não só dos israelitas, religiosos e laicos, "falcões" e "pombas", da esquerda e da direita.
Estas questões dependem muito da resposta dos palestinianos. Será que os palestinianos olham para tudo isto como um corajoso passo de Israel em direcção a um compromisso histórico com eles? Irão eles retribuir dando passos corajosos em relação aos seus próprios fanáticos? Ou será que eles olham para os confrontos entre judeus e judeus como o primeiro síndroma da desintegração de Israel e vão tentar inflamar a situação interna israelita lançando uma nova vaga de violência e terrorismo?
Diz um velho provérbio árabe que "não se bate palmas só com uma mão". Muito vai depender do modo como os palestinianos interpretarão a luta entre judeus e judeus em Gaza.
#1
[copy/paste]
as ideias martelam duras, arestadas e espinhosas, balançando entre formas incontinentes e rumores intangiveis.
as palavras são esparças, são esperanças, são teias que se tecem e destecem e retecem.
burilar a frase que desperte o sentimento colectivo, que vá ao amago, que se torne numa razão, que absorva a causa. imagina-la perdida para sempre, uma certeza na boca das massas anónimas.
é urgente apreendeer a realidade e modelar-lhe o gosto.
há que esventrar o texto, rasga-lo com as tesouras figurativas, abrir-lhe a solução de continuidade que lhe permite libertar-se, faze-lo sangrar a redenção,cambiar os ossos do seu esqueleto, enche-lo de paracetamol linguistico e emagrecer as suas formas sem quebrar as intenções...dar forma ideal ao best seller de estação de comboio. ser agente do pré revisionismo ou do revisionismo que nunca o chega a ser porque é preventivo.
Num acto de contrição, fazer a história acontecer.
[copy/paste]
as ideias martelam duras, arestadas e espinhosas, balançando entre formas incontinentes e rumores intangiveis.
as palavras são esparças, são esperanças, são teias que se tecem e destecem e retecem.
burilar a frase que desperte o sentimento colectivo, que vá ao amago, que se torne numa razão, que absorva a causa. imagina-la perdida para sempre, uma certeza na boca das massas anónimas.
é urgente apreendeer a realidade e modelar-lhe o gosto.
há que esventrar o texto, rasga-lo com as tesouras figurativas, abrir-lhe a solução de continuidade que lhe permite libertar-se, faze-lo sangrar a redenção,cambiar os ossos do seu esqueleto, enche-lo de paracetamol linguistico e emagrecer as suas formas sem quebrar as intenções...dar forma ideal ao best seller de estação de comboio. ser agente do pré revisionismo ou do revisionismo que nunca o chega a ser porque é preventivo.
Num acto de contrição, fazer a história acontecer.
23.8.05
#1
[noticias]
a tita está desde o fim de junho em stromboli, uma ilha vulcanica no meio do mediterraneo, a trabalhar. de vez em quando manda noticias, dando-nos eco dos rugidos do vulcão, das tempestasdes e da dura vida que, até meio de setembro, vai levando...
hoje o, decidi postar-lhe uma resposta, para dizer que por cá vai tudo bem, que lisboa em agosto é o apeadeiro antes do deserto, que a lampada esquerda do 4º candeeiro do meu gabinete pisca insistente e irritantemente, que as noites continuam humidas para os lados do mar, que o seara continua apaixonado por sintra e o joão soares tenta a sua sorte, que o ps já tem candidato a presidente da republica e o cavaco tem soares (...) frios só de pensar, que a bola voltou aos relvados, que a C vai melhor da gripe, que alguém tem ocupado o teu lugar com vista para a tv na hora do jantar, que a tvi vai fazer um novo reality show com o conde, que o pais vai ardendo...
enfim, como podes ver pela amostra, um mundo excitante espera por ti, volta depressa!
[noticias]
a tita está desde o fim de junho em stromboli, uma ilha vulcanica no meio do mediterraneo, a trabalhar. de vez em quando manda noticias, dando-nos eco dos rugidos do vulcão, das tempestasdes e da dura vida que, até meio de setembro, vai levando...
hoje o, decidi postar-lhe uma resposta, para dizer que por cá vai tudo bem, que lisboa em agosto é o apeadeiro antes do deserto, que a lampada esquerda do 4º candeeiro do meu gabinete pisca insistente e irritantemente, que as noites continuam humidas para os lados do mar, que o seara continua apaixonado por sintra e o joão soares tenta a sua sorte, que o ps já tem candidato a presidente da republica e o cavaco tem soares (...) frios só de pensar, que a bola voltou aos relvados, que a C vai melhor da gripe, que alguém tem ocupado o teu lugar com vista para a tv na hora do jantar, que a tvi vai fazer um novo reality show com o conde, que o pais vai ardendo...
enfim, como podes ver pela amostra, um mundo excitante espera por ti, volta depressa!
22.8.05
#1
[gaza, palestina]
Dó de quem?
Alexandra Lucas Coelho, Jerusalém
Publico, 20 de Agosto de 2005
Dó dos colonos.
A mulher a imolar-se pelo fogo, os velhos rabis a correrem com a Tora nos braços, os ortodoxos a rezarem a última oração, as mães a apertarem bebés ao colo, os jovens a serem arrastados por braços e pernas, o soldado a chorar amparado à sua irmã, os tanques, os gritos, as chamas, a guerra.
Dó?
Perguntem a Mohammad.
Quando os seus foram expulsos não ocupavam terra alheia. Não receberam compensações financeiras. Não tiveram caravillas, moshav, kibbutz, cidades que os acolhessem. Não causaram dó em directo. Eram centenas de milhares e não tinham um país seu.
Até agora não têm.
Ou como Mohammad diz: "Tenho 18 anos e ainda não vivi um dia bonito."
Os colonos viveram muitos dias bonitos, nas suas casas bonitas, com jardins bonitos, à beira de praias bonitas. Gush Katif era o paraíso que Deus prometeu, Israel alimentou e os homens fizeram, a partir dos anos 1970. Sharon lá estava, soprando para que crescessem. Seculares e religiosos, funcionários e agricultores, nascidos em Israel ou recém-chegados. Por que não? Se o lugar era tão fértil. Se o clima era tão bom. Se o governo pagava.
Assim foi, em Gaza. Quase 9000 colonos para os dias bonitos. Quase um milhão e meio de palestinianos para os dias feios.
Um dia de Mohammed Abu Adel, por exemplo. "Acordo com os tiros israelitas e durmo com os tiros israelitas." Entre os dois tiroteios, tenta ir às aulas, subindo todos os dias os 40 quilómetros que vão de Rafah, no Sul, onde mora, à Cidade de Gaza, no Norte, onde estuda. Fica preso nos checkpoints, às vezes horas, às vezes dias.
Não sabe o que é um espaço aberto a perder de vista. Porque em Gaza não há espaço e Mohammad nunca saiu de Gaza.
Tudo o que conhece são estes 40 e tantos quilómetros de comprimento por uma dezena de largura onde se apertaram os palestinianos expulsos por Israel em 1948, se voltaram a apertar ainda mais quando Israel ocupou Gaza em 1967, e ainda mais quando os colonos chegaram.
Dó dos colonos?
Não perguntem a Mohammed.
Ele só quer acreditar que a retirada israelita vai mesmo mudar os seus dias. Os tiros de manhã, os tiros à noite, a demolição das casas, a humilhação dos checkpoints, a claustrofobia de quem não pode passar a fronteira e estar no Egipto, passar a fronteira e ir a Jerusalém, à Cisjordânia, aos países árabes, à Europa. "Gostava muito de ir a Paris, a Londres, a qualquer outro país..."
Anda na universidade a estudar Comércio com uma ideia fixa metida na cabeça, entrar na Polícia, para poder circular livremente. Sair daqui.
E não o demovem as palavras do homem que, nesta praça da Cidade de Gaza, em plena retirada israelita, espera como ele que o checkpoint abra para poder descer a Rafah, e se mete na conversa.
- Todos os muçulmanos têm que estar aqui - protesta o homem, inflamado.
- A Palestina será sempre a Palestina nos nossos corações. Mas a situação pede-nos para sair - responde Mohammed.
Mohammed gostava de estar mesmo feliz, mas sabe que "a situação" não acaba aqui. Que o céu por cima da sua cabeça continuará a ser domínio de Israel. Que o mar lá ao fundo continuará a ser patrulhado por Israel. Que tudo o que entra e sai de Gaza continuará a estar nas mãos de Israel. Tudo o que se mexe, tudo o que se come, tudo o que se usa.
Dó de quem?
[gaza, palestina]
Dó de quem?
Alexandra Lucas Coelho, Jerusalém
Publico, 20 de Agosto de 2005
Dó dos colonos.
A mulher a imolar-se pelo fogo, os velhos rabis a correrem com a Tora nos braços, os ortodoxos a rezarem a última oração, as mães a apertarem bebés ao colo, os jovens a serem arrastados por braços e pernas, o soldado a chorar amparado à sua irmã, os tanques, os gritos, as chamas, a guerra.
Dó?
Perguntem a Mohammad.
Quando os seus foram expulsos não ocupavam terra alheia. Não receberam compensações financeiras. Não tiveram caravillas, moshav, kibbutz, cidades que os acolhessem. Não causaram dó em directo. Eram centenas de milhares e não tinham um país seu.
Até agora não têm.
Ou como Mohammad diz: "Tenho 18 anos e ainda não vivi um dia bonito."
Os colonos viveram muitos dias bonitos, nas suas casas bonitas, com jardins bonitos, à beira de praias bonitas. Gush Katif era o paraíso que Deus prometeu, Israel alimentou e os homens fizeram, a partir dos anos 1970. Sharon lá estava, soprando para que crescessem. Seculares e religiosos, funcionários e agricultores, nascidos em Israel ou recém-chegados. Por que não? Se o lugar era tão fértil. Se o clima era tão bom. Se o governo pagava.
Assim foi, em Gaza. Quase 9000 colonos para os dias bonitos. Quase um milhão e meio de palestinianos para os dias feios.
Um dia de Mohammed Abu Adel, por exemplo. "Acordo com os tiros israelitas e durmo com os tiros israelitas." Entre os dois tiroteios, tenta ir às aulas, subindo todos os dias os 40 quilómetros que vão de Rafah, no Sul, onde mora, à Cidade de Gaza, no Norte, onde estuda. Fica preso nos checkpoints, às vezes horas, às vezes dias.
Não sabe o que é um espaço aberto a perder de vista. Porque em Gaza não há espaço e Mohammad nunca saiu de Gaza.
Tudo o que conhece são estes 40 e tantos quilómetros de comprimento por uma dezena de largura onde se apertaram os palestinianos expulsos por Israel em 1948, se voltaram a apertar ainda mais quando Israel ocupou Gaza em 1967, e ainda mais quando os colonos chegaram.
Dó dos colonos?
Não perguntem a Mohammed.
Ele só quer acreditar que a retirada israelita vai mesmo mudar os seus dias. Os tiros de manhã, os tiros à noite, a demolição das casas, a humilhação dos checkpoints, a claustrofobia de quem não pode passar a fronteira e estar no Egipto, passar a fronteira e ir a Jerusalém, à Cisjordânia, aos países árabes, à Europa. "Gostava muito de ir a Paris, a Londres, a qualquer outro país..."
Anda na universidade a estudar Comércio com uma ideia fixa metida na cabeça, entrar na Polícia, para poder circular livremente. Sair daqui.
E não o demovem as palavras do homem que, nesta praça da Cidade de Gaza, em plena retirada israelita, espera como ele que o checkpoint abra para poder descer a Rafah, e se mete na conversa.
- Todos os muçulmanos têm que estar aqui - protesta o homem, inflamado.
- A Palestina será sempre a Palestina nos nossos corações. Mas a situação pede-nos para sair - responde Mohammed.
Mohammed gostava de estar mesmo feliz, mas sabe que "a situação" não acaba aqui. Que o céu por cima da sua cabeça continuará a ser domínio de Israel. Que o mar lá ao fundo continuará a ser patrulhado por Israel. Que tudo o que entra e sai de Gaza continuará a estar nas mãos de Israel. Tudo o que se mexe, tudo o que se come, tudo o que se usa.
Dó de quem?
19.8.05
#1
[direita volver!!]
A Endemol e a TVI querem gravar um reality show onde se simula a vida de um grupo de recrutas durante a instrução militar.
Garantida a presença do Recruta Zero, personificado por Castelo Branco, essa joia de moço, o estado maior do telelixo nacional pediu ao Parque Natural de Sintra Cascais e à Sociedade Monte da Lua, que explora os parques e monumentos da serra de sintra, autorização para montar um quartel na Tapada do Mouco, situada no Parque da Pena.
E, qual não é o espanto, foi dada luz verde, as tropas podem avançar.
Parece que as contrapartidas financeiras e a promessa de pagar um programa de reabilitação do espaço foram suficientes para esquecer o impacto ambiental negativo que esta utilização vai trazer ao local... afinal o que é uma equipa ruidosa a filmar, um grupo de soldados a viver ali e o ruido causado por toda a gente que por lá vai andar, quando comparado com uns milhares de euros que vão entrar nos falidos cofres daquelas duas entidades???
eu cá, chamem-me parvo, sou da opinião que a recuperação da natureza e do património deve ser de responsabilidade Publica e que aos mecenas não deve ser permitido tudo em troca de dinheiro... é certamente a minha miopia esquerdista a distorcer a coisa.
A cereja em cima do bolo é o aval do PCP a toda esta história. Em comunicado, a estrutra de Sitnra realça os beneficios que se proporcionam para a zona, dando assim o perdão ao seu camarada António Abreu por ter autorizado, enquanto admnistrador da Monte da Lua, tamanho disparate.
[direita volver!!]
A Endemol e a TVI querem gravar um reality show onde se simula a vida de um grupo de recrutas durante a instrução militar.
Garantida a presença do Recruta Zero, personificado por Castelo Branco, essa joia de moço, o estado maior do telelixo nacional pediu ao Parque Natural de Sintra Cascais e à Sociedade Monte da Lua, que explora os parques e monumentos da serra de sintra, autorização para montar um quartel na Tapada do Mouco, situada no Parque da Pena.
E, qual não é o espanto, foi dada luz verde, as tropas podem avançar.
Parece que as contrapartidas financeiras e a promessa de pagar um programa de reabilitação do espaço foram suficientes para esquecer o impacto ambiental negativo que esta utilização vai trazer ao local... afinal o que é uma equipa ruidosa a filmar, um grupo de soldados a viver ali e o ruido causado por toda a gente que por lá vai andar, quando comparado com uns milhares de euros que vão entrar nos falidos cofres daquelas duas entidades???
eu cá, chamem-me parvo, sou da opinião que a recuperação da natureza e do património deve ser de responsabilidade Publica e que aos mecenas não deve ser permitido tudo em troca de dinheiro... é certamente a minha miopia esquerdista a distorcer a coisa.
A cereja em cima do bolo é o aval do PCP a toda esta história. Em comunicado, a estrutra de Sitnra realça os beneficios que se proporcionam para a zona, dando assim o perdão ao seu camarada António Abreu por ter autorizado, enquanto admnistrador da Monte da Lua, tamanho disparate.
18.8.05
16.8.05
9.8.05
#1
[ um tipo vai de férias...]
e fazem logo uma festa lá na rua...
Brigada Antiterrorista investiga empresa árabe na área de Sintra
[ um tipo vai de férias...]
e fazem logo uma festa lá na rua...
Brigada Antiterrorista investiga empresa árabe na área de Sintra
8.8.05
#2
[post em atraso]
Rosa de Hiroshima
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas,
Pensem nas meninas
Cegas inexatas,
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas,
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas.
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa, da rosa!
Da rosa de Hiroshima,
A rosa hereditária,
A rosa radioativa
Estúpida e inválida,
A rosa com cirrose,
A anti-rosa atômica.
Sem cor, sem perfume,
Sem rosa, sem nada.
Vinicius de Moraes
[post em atraso]
Rosa de Hiroshima
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas,
Pensem nas meninas
Cegas inexatas,
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas,
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas.
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa, da rosa!
Da rosa de Hiroshima,
A rosa hereditária,
A rosa radioativa
Estúpida e inválida,
A rosa com cirrose,
A anti-rosa atômica.
Sem cor, sem perfume,
Sem rosa, sem nada.
Vinicius de Moraes
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