(…)
Procurou uma forma mais precisa de explanar o seu
raciocínio.
- É como se estivesse a sonhar o sonho de outra pessoa. Como
se partilhássemos os mesmos sentimentos em simultâneo. Só que não consigo
perceber exactamente o que significa essa simultaneidade. Os nossos sentimentos
parecem estar extremamente próximos, mas, na realidade, existe uma considerável
distância entre nós.
- Quem sabe se Proust não teria intenção de criar esse tipo
de sensação?
Aomame não fazia a menor ideia.
- No entanto, por outro lado – disse Tamaru -, no mundo
real, o tempo avança sempre em frente. Nunca se detém e nunca retrocede.
- Sim, claro. No mundo real, o tempo avança sempre.
Ao mesmo tempo que dizia isto, Aomame olhou para a porta de
vidro. Seria mesmo verdade? Que o tempo avança sempre?
(…)
Haruki
Murakami in 1Q84 (3)