13.3.12

#1 [A Greve da FIOM]

Com uns dias de atraso, o texto de Salvatore Cannavò (feita para o esquerda.net) que antevia a greve geral e a manifestação sindical que na passada sexta feira juntou dezenas de milhar de pessoas em Roma.

A Greve da FIOM
Salvatore Cannavò
 Artigo publicado em Il megafono quotidianoem 3 de Março de 2012.

“A Greve Geral e a manifestação nacional de 9 de março são um momento essencial não só para os metalomecânicos mas para todos aqueles que acreditam na democracia, na justiça social, na liberdade”. Se não é um manifesto político pouco falta. A Carta com que Maurizio Landini, secretário-geral da FIOM1, relança a manifestação de 9 de março vai para lá da esfera estritamente sindical e propõe um perfil mais abrangente ao sindicato que dirige, uma subjetividade política alargada que se constitui, muito provavelmente, como uma estrada obrigatória para tentar romper o muro erguido pela FIAT2 e também pelo Governo.
Não é por acaso que a Carta cita explicitamente o papel do Governo, em acordo com a Confindustria3, na vontade de “eliminar o artigo 184”. Depois de um primeiro posicionamento mais suave nos confrontos com Monti e Fornero5, a FIOM, com a convocação da Grave Geral, decidiu fazer uma mudança nas suas relações com o Executivo. A mobilização que estava prevista para sábado foi transformada numa Greve Geral com manifestação Nacional em Roma, a forma de protesto mais empenhada de qualquer sindicato. A FIOM já pediu mesmo a adesão de todos os parlamentares e já recebeu o apoio do nº 2 da UIL6, Adriano Musi.
Em resumo, o 9 de março procura recuperar o espírito do 16 de outubro de 2010 quando a FIOM conseguiu reunir em torno de si grande parte do variado mundo da Esquerda – Partido e partidinhos, centro sociais, movimento estudantil e também intelectuais, parlamentares e por aí fora – que se encontra privado de um referencial político e tenta sair da desorientação que se seguiu ao falhanço do 15 de outubro de 2011, quando a grande manifestação dos “indignados” foi destruída pelos confrontos na rua. Não é ainda por acaso que a manifestação de 9 de março vai ter continuidade numa assembleia “para uma plataforma social”, aberta aos vários movimentos e que poderá vir a acontecer ainda durante o mês de março. E é também a 9 de março que se prevê uma participação mais que simbólica do movimento Notav7, um terreno no qual a FIOM está a intensificar esforços.
No fundo, e um pouco como fez Cofferati8 em 2002 com a CGIL – que se defendeu do ataque do Governo alargando a sua frente de defesa do artigo 18 – a FIOM vai à luta. E a praça será sua. Susanna Camusso9 não virá, empenhada que está na Assembleia da ONU sobre “ Estado e mulheres”.

Tradução de André Beja para esquerda.net


1 FIOM - Maior sindicato do sector metalúrgico em Itália, com cerca de 364 mil aderentes. Integra a CGIL, a maior confederação sindical com cerca de 5,75 milhões de aderentes.
2 No final de 2011, a administração da FIAT conseguiu impor aos seus trabalhadores um modelo contratual que acaba com os contratos nacionais e coletivos, substituindo-os por contratos de fábrica. Este processo negocial foi muito conturbado, tendo sido feito à margem da Concertação Social e das próprias regras da Cofindustria, com acusações, entretanto provadas em tribunal, de perseguição a sindicalistas da FIOM, tendo este sindicato recusado o acordo.
3 Maior confederação patronal.
4 Artigo do código do trabalho que garante que os despedimentos só podem acontecer por justa causa.
5 Primeiro-ministro e Ministra do Trabalho e Assuntos Sociais.
6 UIL – Segunda maior confederação sindical italiana, nascida de uma cisão da CGIL.
7 NOTAV – Movimento que se opõe à construção de um conjunto de linhas de TGV em Itália, nomeadamente a que irá cruzar o Vale de Suza, perto de Turim, alegando que este empreendimento é movido apenas por interesses económicos. O Notav tem sido um exponente de resistência social, defendendo os direitos das populações, meio ambiente e a preservação e melhoria da ferrovia tradicional.
8 Secretário Geral da CGIL entre 1994 e 2002. No final do seu mandato, a Itália foi abalada por uma onda de contestação social, com grandes manifestações que mobilizaram milhões de pessoas contra o governo de Berlusconni.
9 Secretária Geral da CGIL. São conhecidas as suas dificuldades de relação com alguns setores da própria central e com parte do tecido social italiano.