29.11.09

#1
[a mastigar]


(...)
Num dia emigram as pessoas de um ano, nunca mais os "abraça-me" nem caroços de azeitona.
Eu fico e pelos menos esta noite não sinto falta deles.
Adormeço à mesa, acordo um pouco antes do amanhecer.
Tenho de recomeçar e habituar-me aos dias de boca calada.
Pego no livro suspenso na marca, volto a acertar o passo pelo dele, pela respiração de um outro que conta. Se também eu sou um outro é porque os livros mais do que os anos e as viagens mudam os homens.
Passadas muitas páginas acaba-se por aprender uma variante, um movimento diferente do executado e que se cria inevitável.
Afasto-me daquele que sou quando aprendo a tratar de outro modo a mesma vida.

(...)

Erri de Luca,
in Três cavalos