31.7.06

#2
[dos mitos]

Todas as familias têm o seu imaginário. Então se a familia for grande e turbolenta, com gente de diversas idades, tod@s fãs da leitura e devotos do telejornal, o campo é ainda mais fértil para a criação de mitos.
Há uns 15 anos atrás, o grande mito lá de casa era a Bósnia. A um qualquer indicio de disparate, o prevaricador ou a prevaricadora eram logo contemplados com um bilhete virtual de ida e volta (sem passar na casa de partida nem receber dois contos) para esse longinquo País onde tudo parecia ser estranho. Face à ameaça de ir parar à Bósnia, o purgatório até parecia um lugar agradável.
A Bósnia entrou no nosso imaginário via TV. Nesse tempo tudo era simples: os sérvios eram os maus, os bósnios os coitadinhos e os croatas os oportunistas vira casacas, que disparavam para onde quisessem. A guerra, estúpida como todas as guerras, era-nos servida com uma tendenciosa dose de maniqueismo, que fazia crer que só os Muçulmanos é que eram, tolerantes, só as suas casa eram destruidas, que só a sua cultura era ameaçada e que só os eus mercados eram destruidos...
Enquanto eu te escrevo Sarajevo Morre Lenta, Uma morte amordaçada No silêncio dos tiros.
Sarajevo tornou-se num mito, embora diferente do lá de casa. A cidade mártir, onde se dera o inicio do fim dos impérios do inicio do séc XX, era o fetiche da intelectualidade de todo o mundo. Pedro Abrunhosa, Pavarotti e toda uma panóplia de artistas dedicaram-se a cantar as desgraças e a impotência da Europa e do Mundo face ao drama e ao horror.
A mim, confesso que me impressionou bastante a imagem da Biblioteca daquela cidade em chamas. foi talvez nessa altura que desejei conhecer essa terra longinquo.
Desde 1995 que a Bósnia está em paz. A guerra fraticida que desmembrou a Jugoslávia estava quase a atingir os propósitos inscritos na sua agenda oculta: terminar o processo aberto com a queda do Muro de Berlim e ajustar contas com o comunismo, abrir novas posições geo estratégicas na entrada da Ásia e restituir poder a alguns dos grandes oligarcas desapossados depois de 1945. Uma Viagem pelos filmes de Kosturika ou uma leitura a livros como "Cruzada de Cegos - Jugoslávia, a primeira guerra da globalização", da jornalista Norte Americana Diana Johnstone dão-nos bons argumentos para a compreensão desta guerra.
Fuck the past, kiss the future, Viva Sarajevo!
Foi com uma voz rouca e emocionada que Bono vox, em directo de Sarajevo para todo o mundo, anunciou ao mundo a libertação da cidade. O concerto dos U2 de Setembro de 1997, transmitido entre nós pela Antena 3, teve o mérito de reabrir linhas de comboio e fazer o mundo suspirar de alivio.
17 anos depois da quesda do Muro, morta a Jugoslávia e Milosevic, tudo parece ser diferente.
não perdi a vontade de ir a Sarajevo e de conehcer os Balcãs. Por isso parto, que, apesar da tensão, ir para a bósnia já não é ameaça de inferno nem sinónimo de disparate...