#1
[post antes de ir fazer o jantar, e a pensar já na partida]
"(...) Há alguns anos (...) veio-me à ideia meter-me num navio e ver a parte aquática do mundo. É uma maneira que eu tenho de afugentar a melancolia e regularizar a circulação. Sempre que na minha boca se desenha uma esgar carrancudo; sempre que me vai na alma um Novembro húmido e cinzento, sempre que dou comigo a deter-me involuntariamente em frente das agências funerárias ou a engrossar o séquito de todos os funerais com que me deparo; e, especialmente, sempre que me sinto invadido por um estado de espírito de tal maneira mórbido, que só os sólidos principios morais me impedem de descer à rua com a ideia deliberada de arrancar metodicamente os chapéus a todos os transeundes, nessa altura dou-me conta que está na hora de me fazer ao mar, quanto antes. (...) Embora não se dêem conta, tal como eu, quase todos os homens acalentam, mais tarde ou mais cedo, este desejo de mar.(...)"
Herman Melville, nas primeiras linhas de "Moby Dick"
[gosto muito de vocês, mas vou-me embora, por la carretera, com a mochila às costas e sem destino concreto. vou arejar as ideias, apanhar sol e falar outras linguas. se for caso disso digam coisas para o e-mail... quem me mandar morada recebe um postal de volta]
22.7.04
21.7.04
20.7.04
19.7.04
#2
Tenho de ter paciência para não me perder dentro de mim.Vivo me perdendo de vista.Preciso de paciência porque sou vários caminhos,inclusive o fatal beco-sem-saída.Sou um homem que escolheu o silêncio grande.
Clarice Lispector,in Um Sopro de Vida
de um momento para o outro esta mulher entrou na minha vida.
cruzei-me com ela por acaso, mas, a pouco e pouco, passei a encontra-la com inusitada recorrencia: citações em sitios diversos, livros nos escaparates, poemas perdidos, uma biografia... não pedi nem procurei, simplesmente apareceu, chegou sem dizer ao que vinha e está-se a instalar com incisão própria das paixões.
ao principio não liguei, depois ignorei e desdenhei. agora estou prestes a abvrandar a resistência e entrar a fundo na leitura. Desconfio que ela vai ser uma das minhas companhias de verão.
16.7.04
#2
sintomas
blogomania,
blogofrustação,
blogorejeição,
blogodependência,
blogodeserção,
blogodesatenção,
blogo-euforia,
blogodisforia,
blogocompulsão,
blogogramática,
blogosemântica,
blogo-estética,
blogodistância,
blogodesistência,
blogocansaço.
este post foi respigado nas torneiras de freud, é da autoria de (do/da ??) Ale
sintomas
blogomania,
blogofrustação,
blogorejeição,
blogodependência,
blogodeserção,
blogodesatenção,
blogo-euforia,
blogodisforia,
blogocompulsão,
blogogramática,
blogosemântica,
blogo-estética,
blogodistância,
blogodesistência,
blogocansaço.
este post foi respigado nas torneiras de freud, é da autoria de (do/da ??) Ale
15.7.04
14.7.04
#1
Que Há-de Ser de Nós?
Já viajámos de ilhas em ilhas
já mordemos fruta ao relento
repartindo esperanças e mágoas
por tudo o que é vento
Já ansiámos corpos ausentes
como um rio anseia p´la foz
já fizemos tanto e tão pouco
que há-de ser de nós?
Que há-de ser do mais longo beijo
que nos fez trocar de morada
dissipar-se-á como tudo em nada?
Que há-de ser, só nós o sabemos
pondo o fogo e a chuva na voz
repartindo ao vento pedaços
que hão-de ser de nós
Já avivámos brasas molhadas
no caudal da lágrima vã
e flutuando, a lua nos trouxe
à luz da manhã
Reencontrámos lágrimas e riso
demos tempo ao tempo veloz
já fizemos tanto e tão pouco
que há-de ser de nós
Que há-de ser da mais longa carta
que se abriu, peito alvoroçado
devolver-se-á: «endereço errado?»
Que há-de ser, só nós o sabemos
pondo o fogo e a chuva na voz
repartindo ao vento pedaços
que hão-de ser de nós
Já enchemos praças e ruas
já invocámos dias mais justos
e as estátuas foram de carne
e de vidro os bustos
Já cantámos tantos presságios
pondo o fogo e a chuva na voz
já fizemos tanto e tão pouco
que há-de ser de nós?
Que há-de ser da longa batalha
que nos fez partir à aventura?
que será, que foi
quanto é, quanto dura?
Que há-de ser, só nós o sabemos
pondo o fogo e a chuva na voz
repartindo ao vento pedaços
que hão-de ser de nós
Sérgio Godinho,in Coincidências
Que Há-de Ser de Nós?
Já viajámos de ilhas em ilhas
já mordemos fruta ao relento
repartindo esperanças e mágoas
por tudo o que é vento
Já ansiámos corpos ausentes
como um rio anseia p´la foz
já fizemos tanto e tão pouco
que há-de ser de nós?
Que há-de ser do mais longo beijo
que nos fez trocar de morada
dissipar-se-á como tudo em nada?
Que há-de ser, só nós o sabemos
pondo o fogo e a chuva na voz
repartindo ao vento pedaços
que hão-de ser de nós
Já avivámos brasas molhadas
no caudal da lágrima vã
e flutuando, a lua nos trouxe
à luz da manhã
Reencontrámos lágrimas e riso
demos tempo ao tempo veloz
já fizemos tanto e tão pouco
que há-de ser de nós
Que há-de ser da mais longa carta
que se abriu, peito alvoroçado
devolver-se-á: «endereço errado?»
Que há-de ser, só nós o sabemos
pondo o fogo e a chuva na voz
repartindo ao vento pedaços
que hão-de ser de nós
Já enchemos praças e ruas
já invocámos dias mais justos
e as estátuas foram de carne
e de vidro os bustos
Já cantámos tantos presságios
pondo o fogo e a chuva na voz
já fizemos tanto e tão pouco
que há-de ser de nós?
Que há-de ser da longa batalha
que nos fez partir à aventura?
que será, que foi
quanto é, quanto dura?
Que há-de ser, só nós o sabemos
pondo o fogo e a chuva na voz
repartindo ao vento pedaços
que hão-de ser de nós
Sérgio Godinho,in Coincidências
#1
Silêncio
O silêncio e o mutismo têm um significado muito diferente. O silêncio é um prelúdio de abertura à revelação, o mutismo é o fechar-se à revelação, seja por recusa de a receber ou de a transmitir, seja por punição de a ter misturado com a confusão dos gestos e das paixões. O silêncio abre uma passagem, o mutismo impede-a. Segundo as tradições, antes da criação havia o silêncio; e haverá de novo silêncio no fim dos tempos. O silêncio envolve os grandes acontecimentos, o mutismo oculta-os; um dá às coisas grandeza e majestade; o outro despreza-as e degrada-as. Um marca o progresso, o outro uma regressão. O Silêncio, dizem as regras monásticas, é uma grande cerimónio(...).
in Dicionário dos Símbolos, Editorial Teorema
Silêncio
O silêncio e o mutismo têm um significado muito diferente. O silêncio é um prelúdio de abertura à revelação, o mutismo é o fechar-se à revelação, seja por recusa de a receber ou de a transmitir, seja por punição de a ter misturado com a confusão dos gestos e das paixões. O silêncio abre uma passagem, o mutismo impede-a. Segundo as tradições, antes da criação havia o silêncio; e haverá de novo silêncio no fim dos tempos. O silêncio envolve os grandes acontecimentos, o mutismo oculta-os; um dá às coisas grandeza e majestade; o outro despreza-as e degrada-as. Um marca o progresso, o outro uma regressão. O Silêncio, dizem as regras monásticas, é uma grande cerimónio(...).
in Dicionário dos Símbolos, Editorial Teorema
13.7.04
11.7.04
#2
Depois de uma passagem pela JF de Carnide, a exposição Artes na Rua 04 encontra-se estacionada, até 29 de Agosto, no pavilhão preto do Museu da Cidade, ao Campo Grande.
Organizada pelo MEF - Movimento de Expressão Fotográfica -, esta mostra faz-se do trabalho dos alunos e monitores envolvidos nos diferentes projectos levados a cabo por esta associação no último ano, existindo também contribuição de artistas convidados.
Moldura Roubada, António Sousa
Depois de uma passagem pela JF de Carnide, a exposição Artes na Rua 04 encontra-se estacionada, até 29 de Agosto, no pavilhão preto do Museu da Cidade, ao Campo Grande.
Organizada pelo MEF - Movimento de Expressão Fotográfica -, esta mostra faz-se do trabalho dos alunos e monitores envolvidos nos diferentes projectos levados a cabo por esta associação no último ano, existindo também contribuição de artistas convidados.
Moldura Roubada, António Sousa
#1
nos livros dos grandes mestres da anatomo-fisiologia humana, pode encontrar-se referência a uma estranha situação:
apesar de funcionarem com aparente normalidade, existem rarissimos casos de pessoas cujo coração, por mal formação congénita, se encontra no lado direito.
Sampaio confirmou-o na noite de 6ª feira.
nos livros dos grandes mestres da anatomo-fisiologia humana, pode encontrar-se referência a uma estranha situação:
apesar de funcionarem com aparente normalidade, existem rarissimos casos de pessoas cujo coração, por mal formação congénita, se encontra no lado direito.
Sampaio confirmou-o na noite de 6ª feira.
9.7.04
8.7.04
#2
Promoção de verão na associação Abril em Maio
Livros baratos e muitas propostas para um tempo diferente
Promoção de verão na associação Abril em Maio
Livros baratos e muitas propostas para um tempo diferente
#1
tímida, sensual, poliglota, grandiosa, envolvente, emocionante, emocionada, dedicada, criativa, reinventada, emotiva, afinada, diversa, doce, melancólica, apaixonada, obsessiva, viciante, exasperada, musical, poética, exploradora, curiosa, nómada, deslumbrante, deslumbrada...
chama-se Lhasa de Sela e ontem deu um concerto memorável, no Fórum Lisboa.
tímida, sensual, poliglota, grandiosa, envolvente, emocionante, emocionada, dedicada, criativa, reinventada, emotiva, afinada, diversa, doce, melancólica, apaixonada, obsessiva, viciante, exasperada, musical, poética, exploradora, curiosa, nómada, deslumbrante, deslumbrada...
chama-se Lhasa de Sela e ontem deu um concerto memorável, no Fórum Lisboa.
7.7.04
#3
Centenas de pessoas no Rossio para exigir eleições antecipadas
título de notícia do publico online, sobre o protesto de ontem no rossio
francamente, não se percebe. é certo que a manif não tinha a alegria e o dinamismo das que fizemos em Belém, que a substituição das chaves e das marchas adaptadas pelos speakers da cgtp não foi boa política, que o discurso do da silva se arrastou e repetiu até à naúsea e que a humidade sindical não deu dinamismo à coisa... mas porra, estavam lá uns largos milhares de pessoas!!!
toda a notícia é facciosa, amanhã, se isto se mantiver no papel, lá terei de escrever uma cartinha ao director.
Centenas de pessoas no Rossio para exigir eleições antecipadas
título de notícia do publico online, sobre o protesto de ontem no rossio
francamente, não se percebe. é certo que a manif não tinha a alegria e o dinamismo das que fizemos em Belém, que a substituição das chaves e das marchas adaptadas pelos speakers da cgtp não foi boa política, que o discurso do da silva se arrastou e repetiu até à naúsea e que a humidade sindical não deu dinamismo à coisa... mas porra, estavam lá uns largos milhares de pessoas!!!
toda a notícia é facciosa, amanhã, se isto se mantiver no papel, lá terei de escrever uma cartinha ao director.
6.7.04
#1
A FORMA JUSTA
Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos - se ninguém atraiçoasse - proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
- Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo
Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo.
Sophia de Mello Breyner Andresem
A FORMA JUSTA
Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos - se ninguém atraiçoasse - proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
- Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo
Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo.
Sophia de Mello Breyner Andresem
5.7.04
#4
não digam a ninguém, mas a tradução desta edição, além de ser literal, não foi revista em condições. é tão má que até dá dó... por este andar a geração público não será rasca, mas sim iletrada.
acho que vou devolver o meu exemplar ao José Manuel Fernandes
.
acho que vou devolver o meu exemplar ao José Manuel Fernandes
.
4.7.04
#2
Em casa de bibliotecári@s e de amantes dos livros, por vezes aconte a alguns desses preciosos objectos serem desviados da prateleira habitual, ganhando um estatuto de volumes sagrados, que, graças à luz que em si transportam, ganham o o privilégio de acompanhar @ desviante para todo o lado e pela vida fora.
foi isso que aconteceu cá em casa aos dois primeiros volumes da Obra Poética de Sophia (edição do Circulo de Leitores). a anexação foi quase imediata e os livros, os mundos a que emprestam corpo, têm-me acompanhado de perto desde que, há uns dez anos, os encontrei na estante.
abri-los é sempre uma experiência, porque neles fui deixando, entre as páginas, pedaços dos dias. são marcas que assinalam poemas classificados, por motivos emotivos e/ou estéticos, como especiais. mas os objecto, em si, também têm valor: bilhets de cinema, um folheto de uma exposição de fotografias, flores e folhas secas...
não me lembro o que me levou a marcar as páginas 320/321 do primeiro volume com um bilhete de metro dos antigos (que custou 60 escudos), mas as palavras, como a sua autora, são ainda cheias de sentido:
NOITE
Sózinha estou entre paredes brancas
Pela janela azul entrou a noite
Com o seu rosto altíssimo de estrelas.
PASSAGEM
O êxtase do ar e a palavra vento
Povoam de ti meu pensamento.
Em casa de bibliotecári@s e de amantes dos livros, por vezes aconte a alguns desses preciosos objectos serem desviados da prateleira habitual, ganhando um estatuto de volumes sagrados, que, graças à luz que em si transportam, ganham o o privilégio de acompanhar @ desviante para todo o lado e pela vida fora.
foi isso que aconteceu cá em casa aos dois primeiros volumes da Obra Poética de Sophia (edição do Circulo de Leitores). a anexação foi quase imediata e os livros, os mundos a que emprestam corpo, têm-me acompanhado de perto desde que, há uns dez anos, os encontrei na estante.
abri-los é sempre uma experiência, porque neles fui deixando, entre as páginas, pedaços dos dias. são marcas que assinalam poemas classificados, por motivos emotivos e/ou estéticos, como especiais. mas os objecto, em si, também têm valor: bilhets de cinema, um folheto de uma exposição de fotografias, flores e folhas secas...
não me lembro o que me levou a marcar as páginas 320/321 do primeiro volume com um bilhete de metro dos antigos (que custou 60 escudos), mas as palavras, como a sua autora, são ainda cheias de sentido:
NOITE
Sózinha estou entre paredes brancas
Pela janela azul entrou a noite
Com o seu rosto altíssimo de estrelas.
PASSAGEM
O êxtase do ar e a palavra vento
Povoam de ti meu pensamento.
3.7.04
#1
PORQUE
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos são sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não..
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner Andressem
PORQUE
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos são sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não..
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia de Mello Breyner Andressem
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