4.7.04

#2
Em casa de bibliotecári@s e de amantes dos livros, por vezes aconte a alguns desses preciosos objectos serem desviados da prateleira habitual, ganhando um estatuto de volumes sagrados, que, graças à luz que em si transportam, ganham o o privilégio de acompanhar @ desviante para todo o lado e pela vida fora.
foi isso que aconteceu cá em casa aos dois primeiros volumes da Obra Poética de Sophia (edição do Circulo de Leitores). a anexação foi quase imediata e os livros, os mundos a que emprestam corpo, têm-me acompanhado de perto desde que, há uns dez anos, os encontrei na estante.
abri-los é sempre uma experiência, porque neles fui deixando, entre as páginas, pedaços dos dias. são marcas que assinalam poemas classificados, por motivos emotivos e/ou estéticos, como especiais. mas os objecto, em si, também têm valor: bilhets de cinema, um folheto de uma exposição de fotografias, flores e folhas secas...
não me lembro o que me levou a marcar as páginas 320/321 do primeiro volume com um bilhete de metro dos antigos (que custou 60 escudos), mas as palavras, como a sua autora, são ainda cheias de sentido:

NOITE
Sózinha estou entre paredes brancas
Pela janela azul entrou a noite
Com o seu rosto altíssimo de estrelas.

PASSAGEM
O êxtase do ar e a palavra vento
Povoam de ti meu pensamento.