24.9.04

#2
[Por Simona e Simona]

Escrevo com um nó na garganta. Um nó que se vem apertando há alguns dias, desde que duas activistas da ONG Italiana Uma Ponte Para foram raptadas por um grupo de extremistas no Iraque. Um nó que me asfixia, angustia, que me doi fundo.
Simona e Simona são jovens e voluntariosas. Participaram no esforço contra a guerra que o mundo promoveu. Em Itália, onde ocorreram as maiores mobilizações, estiveram ao lado de milhões e milhões de homens e mulheres, condenando a aventura armada de Bush na Babilónia, apontando o dedo à mentira, injustiça e à ganância do petróleo. A incrível mobilização do movimento social daquele país, il movimento, fez com que Berlusconi nem sequer se atrevesse a participar na coligação que fez a guerra, esse eixo do mal gerado no ocidente e travestido de paladino da democracia.
Il movimento não conseguiu impedir que, tal como os GNR's, os Carabinieri fossem para o Iraque, para assegurar a paz, dizem. Mas respondeu à altura: as iniciativas pela paz em Itália são multliplas, quase diárias, e a denuncia do que se passa em terras iraquianas é uma constante. Para lá disso, as ONG partiram para o terreno, para cooperar, para trazer notícias, para dar uma mão e fazer uma ponte, para dar uma resposta diferente e solidária ao povo iraquiano, longe do ódio e da arrogância do militarismo. E lá foram as duas Simonas para o Iraque.
No passado dia 12 a notícia foi brutal: as duas cooperantes deixavam de ser solidárias anónimas, passando a ser, juntamente com dois iraquainos, consideradas como objecto de troca. As suas vidas pela retirada dos carabinieri do Iraque, onde nunca deveriam ter ido. Berlusconi e os seus disseram que não, que não cedem ao terrorismo... mas cedem sempre a Bush.
E o drama arrastou-se durante duas longas semanas, até que a execussão das duas italianas foi anunciada. Mais duas vitimas inocentes nesta espiral de violência. A Itália e @s pacifistas estão em estado de choque.
Não há vidas que valham mais do que outras. As de Simona e Simona não valem mais do que tod@s @s vítimas deste conflito. Mas dói ver a cegueira radical com que algumas facções da resistência iraquiana respondem à ocupação criminosa do seu país: disparam em todas as direcções, matando os seus e aqueles que, por solidariedade, deram muito de si contra esta guerra infinita.
Estando contra esta guerra e conhecendo um pouco daquilo que Il movimento tem feito, sinto uma grande frustração: a Pomba da paz foi, mais uma vez, atingida por aqueles que a deveriam ter como uma esperança.
Mas não é por isto que nos vergam. A guerra não é solução, esta ocupação é criminosa, é necessário que @s iraquian@s tomem o poder em suas mãos. Sem mentiras, sem radicalismos.