post em memória do poeta Al berto, que faria hoje 56 anos
dizem que a paixão o conheceu , talvez por isso tenha feito a sua vida procurando a paciência o amor o abandono das palavras, o silêncio e a difícil arte da melancolia.
era frequente perder-se na largueza de todos os rios, onde por vezes uma gaivota pousava nas águas: tratava logo de imaginá-la de outras cores, noutros mares, com outras asas que não as do pássaro.
de tanto acenar ao destino, acabou por descobrir que, com um gesto, tudo vem ao chamamento e que
as mãos pressentem a leveza rubra do lume , isto quando ainda mal sabia reconhecer os teus própios erros .
navegou sempre, orientando-se pelas pernas cruzadas da cassiopeia. sempre que lhe sugeriam a mudança do rumo, justificava a persistência sem deslumbramentos, dizendo possuo a doença dos espaços incomensuráveis e os secretos poços dos nómadas...
com ele temos a ideia de que mais nada se move em cima do papel , só a escrita pausada, a respiração metafórica da vontade.
encontrei-o num inverno. era uma dessas noites que assobiam lá fora e ele estava ali, já morto e imortal... chegara sem se anunciar, com um livro roxo debaixo de um braço e uma pose onírica. perguntei-lhe, a medo: Al berto?!!
o homem levantou-se indiferente à revelação da alba, titubeou, tossiu e disse, antes de voltar a partir: A escrita é a minha primeira morada de silêncio .