“O Camarada K.N. M Pillai nunca contestou Chacko
abertamente. Sempre que se referia a ele nos seus discursos, tinha o cuidado de
o despir de quaisquer atributos humanos e de o apresentar antes como uma
entidade abstracta inserida num esquema mais vasto. Uma construção teórica. Um
peão na monstruosa conspiração burguesa para subverter a Revolução. Nunca se
lhe referia pelo nome mas sempre como «a Gerência». Como se Chacko fosse muitas
pessoas. Além de ser o procedimento tacticamente correcto, esta disjunção entre
o homem e o cargo ajudava o Camarada Pillai a manter a consciência limpa acerca
dos seus negócios privados com Chacko. O seu contrato para imprimir os rótulos
da Pickles Paraíso constituía uma fonte de rendimento da qual não podia
prescindir. Dizia-se que Chacko-o –Cliente e Chacko-o-Gerente eram duas pessoas
diferentes. Distintas, claro, de Chacko-o-Camarada.”
Arundhati Roy in O
Deus das Pequenas Coisas