7.8.17

#1 [diz que é uma espécie de dialética]



“O Camarada K.N. M Pillai nunca contestou Chacko abertamente. Sempre que se referia a ele nos seus discursos, tinha o cuidado de o despir de quaisquer atributos humanos e de o apresentar antes como uma entidade abstracta inserida num esquema mais vasto. Uma construção teórica. Um peão na monstruosa conspiração burguesa para subverter a Revolução. Nunca se lhe referia pelo nome mas sempre como «a Gerência». Como se Chacko fosse muitas pessoas. Além de ser o procedimento tacticamente correcto, esta disjunção entre o homem e o cargo ajudava o Camarada Pillai a manter a consciência limpa acerca dos seus negócios privados com Chacko. O seu contrato para imprimir os rótulos da Pickles Paraíso constituía uma fonte de rendimento da qual não podia prescindir. Dizia-se que Chacko-o –Cliente e Chacko-o-Gerente eram duas pessoas diferentes. Distintas, claro, de Chacko-o-Camarada.”

Arundhati Roy in O Deus das Pequenas Coisas