17.8.14

#1 [leituras de verão...]



(…)
Foi isso que disse a Barbara, que seguia ao meu lado no carro. – Nunca vamos chegar a Persépolis – disse eu, - não vamos resistir à viagem.
- Quatrocentos quilómetros – disse ela. – Mas tu não fizeste já esta viagem?
- Precisamente por isso- respondi, - na primeira vez ousamos tudo, porque não conhecemos a modéstia. Mas depois, depois não devemos cair em tentação outra vez.
 - Quanto a isso – disse Barbara, - fui eu quem te fez cair em tentação. Fui eu quem te convenceu a faz der esta viagem. Não me digas agora que estás arrependida!
- De qualquer maneira, teria tentado outra vez.
- De qualquer maneira?
- É que neste país temos de estar duas vezes certos das coisas que amamos.
- Uma defesa contra esta impressão de estarmos a sonhar?
- Sim – disse eu, - faz-me medo. Tenho medo do efémero.
Mas já o nome de Persépolis era imperecível e intocável, e ninguém podia esquecer a visão das suas ruínas.
- Este país faz de nós cobardes – disse Barbara.
 (...)

Annemarie Schwarzenbach 
in Morte na Pérsia