22.8.14

#1 [e aos primeiros raios do amanhecer...]

(...) Vi-me por fim, depois da batalha, caminhando por uma planície desolada, tão só como fria é a eternidade... às vezes ainda encontro uma marca do combate, ou um antigo companheiro que se cruza comigo sem se atrever a levantar os olhos.
- Porquê eu, então? Porque não procuraste no outro grupo, entre os que vencem?... Eu só ganho batalhas à escala de 1:5000.
A jovem voltou-se para o longe, para a distância. O sol despontava nesse instante e o primeiro raio de luz horizontal cortou a manhã como um traço fino e avermelhado que incidia directamente no seu olhar. Quando se voltou de novo para Corso, este sentiu uma vertigem ao encarar toda aquela luz reflectida nos olhos verdes.
- Porque a lucidez nunca vence. E nunca valeu a pena seduzir um imbecil.
Aproximou então os lábios e beijou-o lentamente, com infinita doçura. Como se tivesse esperado uma eternidade para fazer aquilo.
(...)

Arturo Pérez-RevertPérez-Reverte
in O Clube Dumas