(...)
Tentei tranquiliza-lo.
- Coisas de um Japonês que escreveu um livro chamado O Fim da
História.
- Um Japonês? Nunca entendi os japoneses… Não havia
japoneses nas Brigadas Internacionais.
Sorri àquela recordação. Tudo partia da referência única,
dessa guerra tão distante, de amor consumado e morte vencida, dessa guerra mal
perdida e bem vivida, e sofrida, e cruel, aval de martírios futuros, ocultação
dos mitos. Meu pai não parava de me contar a guerra civil. O resto da sua vida não
passara dum longo pós-guerra, dum epílogo da sua juventude, dum passado da sua
paixão. Porventura teria resistido se assim não fosse? Eu imaginava esse
balanço terrível, com o qual não ousara confrontá-lo. Se, no fundo, ele passara
em claro nas suas memórias faladas quase tudo o que viera depois, é porque se
lhe esvaíra o futuro com o sangue vertido na terra de Espanha. O que viera
depois era, portanto, supérfluo.
(...)
Álvaro Guerra, in
No Jardim das Paixões Extintas