5.6.14

#1 [chama ainda acesa]



(...)
Tentei tranquiliza-lo.
- Coisas de um Japonês que escreveu um livro chamado O Fim da História.
- Um Japonês? Nunca entendi os japoneses… Não havia japoneses nas Brigadas Internacionais.
Sorri àquela recordação. Tudo partia da referência única, dessa guerra tão distante, de amor consumado e morte vencida, dessa guerra mal perdida e bem vivida, e sofrida, e cruel, aval de martírios futuros, ocultação dos mitos. Meu pai não parava de me contar a guerra civil. O resto da sua vida não passara dum longo pós-guerra, dum epílogo da sua juventude, dum passado da sua paixão. Porventura teria resistido se assim não fosse? Eu imaginava esse balanço terrível, com o qual não ousara confrontá-lo. Se, no fundo, ele passara em claro nas suas memórias faladas quase tudo o que viera depois, é porque se lhe esvaíra o futuro com o sangue vertido na terra de Espanha. O que viera depois era, portanto, supérfluo.
(...)

Álvaro Guerra, in
No Jardim das Paixões Extintas