Querem saber o que me provoca Vai Brasil, de Alexandra Lucas
Coelho? O palato.
É isso mesmo, é um livro que me provoca o palato, nome de atlas
para céu da boca, que se arqueia para enrolar a língua com o português do Brasil,
jabuti e tupiqui elevados à enésima potência.
Céu-da-boca que se
enche de saliva com as descrições da cozinha amazónica e as suas iguarias que
nem tive coragem de ir ver ao Google que aspecto têm, não fosse engasgar-me de
vez.
Palato que se transforma em câmara de ressonância de onomatopeia
e admiração com a música de Wisnik ou de Jeneci, o instantâneo sobre Fernando
Lemos, a sacanagem épica à volta de Pornopopeia, com as águas e as lamas de Março ou com a roda
da Esquina do Ouvidor.
Céu da boca que exaspera de secura quando a autora nos conduz
favela a cima, pela linha do equador, no interior do Copacabana Palace, pelo
teatro de Manaus, ao museu que Siza deixou na Bahia, dentro do Brasil do futuro
que está sendo e das desigualdades que, apesar de tudo, ainda não foram.
Editado em 2013 pela Tinta da China, Vai Brasil é jornalismo de viagem que foi passando pelas páginas do Público e está em permanência no blogue
Atlântico Sul. Aguardemos pois pelo próximos volumes.