25.11.13

#1 [Abril Idade]

Porque ainda está quase tudo por fazer, aqui vos deixo um belo texto do meu amigo e camarada Carlos Carujo que recorda esses dias em que (também para mim) a luta se tornou, mais do que uma urgência, uma exigência.


Abril idade 
Carlos Carujo, in Linhas da Ira

Há 20 anos, estudantes em luta pelo ensino público, sentíamos a leveza dos bastões do cavaquismo. Hoje sentimos o peso da austeridade.
Há 20 anos, estudante em luta pelo ensino público, corria à frente dos bastões do cavaquismo. Hoje já nem consigo correr atrás do prejuízo.
Há 20 anos, estudantes em luta pelo ensino público, acabámos por perder. Hoje a derrota é um quotidiano em que se eclipsa o futuro.
Não é da nossa juventude reescrita pela nostalgia. Não é do peso do tempo ou da força das pancadas. Não é do significado político dessa derrota. Não é de um balanço. Não é da trajetória de uma geração entalada na precariedade e no desemprego. Não é de nada disso que me apetece escrever.
Apetece-me apenas dizer que demos luta. E não é para que conste. Apetece-me dizer que forjámos camaradagens. Apetece-me dizer que aprendemos, que aprendi. E não é para justificar que tenha valido a pena.
Apetece-me dizer uma idade como se fosse uma possibilidade e como se condensasse esperanças.
Há 20 anos dedicámos a nossa passagem pela universidade a lembrar que Abril tinha a nossa idade. Hoje ainda tem. E se na altura provámos um toque nada meigo de Novembro e se hoje vivemos um imenso Novembro austeritário, Abril continua a ter a nossa idade. Não há cavaquismo, bastonada, Novembro, troika, desemprego, que nos tire isso.
Há Abril.
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