de Paulina Chiziane
Delfina é uma mulher bonita, «uma negra daquelas que os brancos
gostam». A história de vida desta Delfina, «dos contrates, dos
conflitos, das confusões e contradições», é a história da mulher
africana, a história da apocalíptica perda do sonho. Esta mulher
debate-se entre «escolher o caminho do sofrimento», o amor que sente por
José dos Montes, e eliminar a sua raça para ganhar a liberdade»,
procurando o homem branco que lhe dará o alimento e o conforto que
deseja. Mas o que é o amor para a mulher negra? Na terra onde as
mulheres se casam por encomenda na adolescência? O problema arrasta-se
ao longo do livro, aparentemente sem solução: «viver em dois mundos é o
mesmo que viver em dois corpos, não se pode. Tu és negra, jamais serás
branca». Mesmo assim a mulher negra «procura um filho mulato, para
aliviar o negro da sua pele como quem alivia as roupas de luto».
O sufoco das palavras outrora silenciadas, a valentia e a frontalidade
gritam alto nos romances de Paulina Chiziane. Neste diálogo consigo
própria, a conhecida escritora moçambicana, mistura imaginação,
fantástico, misticismo, num retrato poderoso e peculiar da sociedade e
da mulher africanas.