Os corredores do poder são um labirinto, para alguns
simples, para tantos indecifrável ou até inimaginável. Há os que se viciam com o
cheiro da sua cera, que por eles correm de peito aberto animados por um prazer muito
próprio de correr, e quem aprenda a fazer uso do jogo de luz e de sombras para,
em nome de um ideal, garantir um muito confortável proveito próprio (e há também
quem abomine o poder e o lustro obsequioso que a ele se associa).
Gaiola de Fantasmas, de Cecília Honório, é uma elipse sobre os
corredores (quartos, gabinetes e jardins, tanto faz), marcada pela amizade, pelo idealismo
e pelas lealdades que se tecem ao longo de uma vida, num país ficcional que,
mero acaso, se chama Portugal e é desgovernado pelos interesses de um bloco central pastoso, mais musculado ou associativista, com contas a acertar com uma
revolução mal resolvida e borboletas que, ao longo das décadas, mudam de poiso com
a naturalidade que só aos ilusionistas assiste.
Declarando interesses, digo que este livro já me havia
passado por baixo do nariz nos tempos em que ainda era um projecto. Como não
era assunto meu, esperei para ver no que dava. E, tenho agora certeza, deu
certo.