Poucos são os livros que lí até ao fim com um sentimento
de o estar a fazer quase obrigado. Foi o que aconteceu com Bebendo o Mar, de
Xavier Queipo.
A ideia de partida até não é má: em 1998 um tradutor, que
recentemente descobrira ter uma doença degenerativa galopante nas córneas, recebe a incumbência de traduzir para inglês a última
obra de um autor português, até então desconhecido mas que estava bem colocado
para vencer o prémio Nobel.
O problema dos livros é que não basta partirem de boas
ideias para serem realmente bons. Quando escreveu esta obra, em 2001, o galego Queipo
já tinha nome nas letras e alguns prémios, não tendo a sua obra ficado por aqui. Este dado
biográfico ainda me impressiona mais, porque, de facto, não percebo algumas
boas críticas feitas a este livro.
O texto é inconstante e sem harmonia, parece que não foi
revisto pelo autor (ou, vá lá, por um editor competente). A repetição de
termos, de palavras, de frases, de ideias, começa por parecer estilo mas acaba
por se revelar uma desagradável e enfadonha muleta de escrita. A abordagem à obra do tal português desconhecido é superficial, sabemos que a tradução avança mas,
de facto, é-nos dito muito pouco sobre a relação com a história e a parábola
que Saramago (para quem ainda não percebeu) propõe ao leitor… O fim é todo ele
martelado, com um drama inesperado e um parágrafo justificativo do mesmo que
roça o pretensioso.
Enfim, nem sempre acertamos nos livros.