O Eleftherotypia (“liberdade de imprensa”), um dos dois maiores diários
gregos, saiu no dia 15 em toda a Grécia com o cabeçalho “Trabalhadores
do Eleftherotypia”, autogerido pelos 800 trabalhadores em greve e
solidário com a onda de protestos que sacode o país.
Texto do jornalista italiano Salvatore Cannavò que traduzi para o Esquerda.net
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“Está feito!” grita da sua “Tribuna Livre” (o editorial do jornal) Moissis Litsis, redactor de economia e um dos líderes dos grevistas do Eleftherotypia (“liberdade de imprensa”), um dos dois maiores diários gregos. Hoje sai em toda a Grécia com o cabeçalho “Trabalhadores do Eleftherotypia”,
autogerido pelos 800 trabalhadores em greve e solidário com a onda de
protestos que sacode o país. Os seus trabalhadores estão em greve desde
22 de Dezembro porque a empresa não lhes paga salários desde Agosto. As
receitas servirão sobretudo para reforçar o fundo de solidariedade. Os
trabalhadores, diante do pedido do editor de aplicar o artigo 99 do
código de falências grego, para proteger os seus 7 milhões de crédito,
correspondente a salários não pagos, escolheram a autogestão do jornal,
apoiados por movimentos sociais e cidadãos. Isto em paralelo com as
ações legais em curso.
Texto do jornalista italiano Salvatore Cannavò que traduzi para o Esquerda.net
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Eleftherotypia, o jornal grego em autogestão
Salvatore Cannavò
A direção não ficou agradada com a iniciativa dos grevistas e começou
por lhes cortar o aquecimento e as ligações informáticas, para depois
ameaçá-los com grandes retaliações. Desta forma, o jornal foi redigido
como uma folha clandestina, numa redação externa, e impresso com o apoio
do sindicato dos gráficos. No entanto, os leitores, e não só os do Eleftherotypia,
acompanharam com grande interesse a saída desta experiência e
encorajaram os autogeridos submergindo-os com mensagens de solidariedade
contra a ditadura do mercado que torna a realidade grega opaca. “Se
não houvesse um clima de consenso na maior parte dos média - escreve
Litsis - com a desculpa de que não nos restava alternativa à assinatura
do primeiro e catastrófico memorando por Papandreu em 2010, poderíamos
ter visto o povo grego revoltar-se mais cedo para derrubar uma política
catastrófica para toda a Europa”.
O caso não é único: São cada vez mais as empresas que pararam de pagar
aos seus trabalhadores há algum tempo e que foram virtualmente
abandonadas pelos seus acionistas na espera de melhores dias. É recente o
caso do Hospital de Kilikis, no centro da Grécia, ocupado e
autogerido desde 6 de Fevereiro pelos seus trabalhadores. Cuidados
garantidos enquanto houver recursos e decisões tomadas em assembleia
pública. Neste contexto, o Eleftherotypia tenta com a autogestão recuperar um papel que já teve em 1975, quando nasceu como “um jornal dos seus redatores”, impulsionado pela radicalização que se seguiu ao fim da ditadura dos coronéis.
Artigo publicado em Il fatto quotidiano em 15 de fevereiro de 2012.
Tradução de André Beja para esquerda.net