Os que se julgam poderosos andam nervosos com os efeitos
colaterais das medidas que implementam. Não é à toa que o Ministério da
Administração Interna não foi atingido pelo corte orçamental generalizado que
afectou as restantes áreas da governação, especialmente aquelas que estão
relacionadas com a política social.
Este estado de ansiedade também se pode pressentir pela actuação
da polícia de choque nos piquetes sindicais na Greve Geral ou pelo vergonhoso
comportamento de agentes à paisana, infiltrados, provocando desacatos nas
manifestações do dia da greve ou naquela que os/as indignados /as realizaram a 15
de Outubro.
Texto Publicado no Correio de Sintra,
9 de Dezembro de 2011
Três histórias da minha rua
I
Um dia destes, em Sintra, dei por falta do ecoponto que
costuma estar estacionado na rotunda junto ao museu de arte moderna. Convenci-me
de que os serviços competentes tinham finalmente decidido corrigir a fisionomia
de uma das principais entradas da Vila Património Mundial. Enganei-me.
Dias depois, o
monumento foi devolvido ao seu lugar, garantindo que quem vem do Lourel ou da
zona das praias vai continuar a esbarrar no lixo.
Não sei se há alguma relação entre este desaparecimento
temporário e um evento que decorreu na mesma altura, a vinda de Passos Coelho e
Durão Barroso ao CC Olga de Cadaval para encerrar uma conferência da UNESCO. O
facto das imediações do recinto terem sido excessivamente policiadas naquele
dia (com direito, até, a cão que fareja bombas), talvez ajude a explicar o
fenómeno.
Os que se julgam poderosos andam nervosos com os efeitos
colaterais das medidas que implementam. Não é à toa que o Ministério da
Administração Interna não foi atingido pelo corte orçamental generalizado que
afectou as restantes áreas da governação, especialmente aquelas que estão
relacionadas com a política social.
Este estado de ansiedade também se pode pressentir pela actuação
da polícia de choque nos piquetes sindicais na Greve Geral ou pelo vergonhoso
comportamento de agentes à paisana, infiltrados, provocando desacatos nas
manifestações do dia da greve ou naquela que os/as indignados /as realizaram a 15
de Outubro.
Estes casos, e apesar dos abusos policiais, resultaram no
falhanço da estratégia de procurar desviar a atenção das razões da luta, para
enfraquece-la, e da tentativa de causar agitação para justificar a repressão. No
entanto, ficámos já a saber ao que vem a maioria que hoje (des)governa o país e
que, perante a ameaça, teremos de ser ainda mais intransigentes com a defesa da
liberdade.
II
Não há dia de semana que seja diferente: de madrugada, bem
cedo, começam a formar-se filas à porta do Centro de Emprego de Sintra, que não
param de crescer até à hora de abertura. Esta é a imagem que ilustra um país
que está a ficar pobre e sem respostas para o crescente desemprego e para a
agudização da crise.
Os responsáveis pela situação a que chegámos – os partidos
da TROIKA, os banqueiros e quem vive da exploração do trabalho da grande
maioria da população, continuam a insistir nas mesmas soluções de austeridade e
de empobrecimento, que irão arrastar a economia para o abismo e criar mais
dificuldades à população. O que se passa na Grécia e na Irlanda mostra que o
caminho escolhido está errado.
Diz-se que quem, como eu, é crítico destas escolhas nunca
apresenta soluções. Não é verdade e a recente discussão do Orçamento de Estado
para 2012 veio comprová-lo. O Bloco apresentou propostas para responder à
crise, gerar receitas através do combate ao desperdício e da taxação dos ricos
e dos seus negócios. A sua aplicação permitira receitas para evitar o corte nos
subsídios e nos salários, dinamizar o emprego, a economia e a política social.
Todas as propostas foram chumbadas, porque PSD e CDS não querem responder à
crise pelo lado dos que a sofrem mas sim aproveitar a oportunidade para mudar
as regras do jogo em favor de quem domina. E o PS, com a sua tímida abstenção,
vai atrás
III
Num dia de temporal, em frente ao museu de arte moderna, uma
árvore caiu em cima de uma viatura. Danos materiais, um grande susto e menos
uma árvore em zona urbana. Ao lado da árvore que caiu, ficaram duas em pé, que
foram prontamente podadas. Uma daquelas podas de que a Câmara de Sintra se
devia envergonhar, pois levam tudo menos o tronco. Estas três árvores não foram
cuidadas durante anos, mas depois do acidente, as sobrantes foram condenadas a
um futuro incerto.
Este não é um exemplo isolado. Dezenas de podas e abates
pouco justificados têm vindo a acontecer no Concelho ao longo das últimas
semanas. Apesar das podas estarem a ser feitas no tempo certo – no Outono,
quando não têm folhas nem pássaros jovens, a técnica de desbaste total,
conhecida por atarraque, continua a ser usada. Além de fragilizar as árvores,
esta prática é desnecessária e esteticamente condenável.