12.12.11

#2 [Três histórias da Minha Rua]


 Os que se julgam poderosos andam nervosos com os efeitos colaterais das medidas que implementam. Não é à toa que o Ministério da Administração Interna não foi atingido pelo corte orçamental generalizado que afectou as restantes áreas da governação, especialmente aquelas que estão relacionadas com a política social.
Este estado de ansiedade também se pode pressentir pela actuação da polícia de choque nos piquetes sindicais na Greve Geral ou pelo vergonhoso comportamento de agentes à paisana, infiltrados, provocando desacatos nas manifestações do dia da greve ou naquela que os/as indignados /as realizaram a 15 de Outubro.

Texto Publicado no Correio de Sintra
9 de Dezembro de 2011

 Três histórias da minha rua
I
Um dia destes, em Sintra, dei por falta do ecoponto que costuma estar estacionado na rotunda junto ao museu de arte moderna. Convenci-me de que os serviços competentes tinham finalmente decidido corrigir a fisionomia de uma das principais entradas da Vila Património Mundial. Enganei-me.
Dias depois, o monumento foi devolvido ao seu lugar, garantindo que quem vem do Lourel ou da zona das praias vai continuar a esbarrar no lixo.
Não sei se há alguma relação entre este desaparecimento temporário e um evento que decorreu na mesma altura, a vinda de Passos Coelho e Durão Barroso ao CC Olga de Cadaval para encerrar uma conferência da UNESCO. O facto das imediações do recinto terem sido excessivamente policiadas naquele dia (com direito, até, a cão que fareja bombas), talvez ajude a explicar o fenómeno.
Os que se julgam poderosos andam nervosos com os efeitos colaterais das medidas que implementam. Não é à toa que o Ministério da Administração Interna não foi atingido pelo corte orçamental generalizado que afectou as restantes áreas da governação, especialmente aquelas que estão relacionadas com a política social.
Este estado de ansiedade também se pode pressentir pela actuação da polícia de choque nos piquetes sindicais na Greve Geral ou pelo vergonhoso comportamento de agentes à paisana, infiltrados, provocando desacatos nas manifestações do dia da greve ou naquela que os/as indignados /as realizaram a 15 de Outubro.
Estes casos, e apesar dos abusos policiais, resultaram no falhanço da estratégia de procurar desviar a atenção das razões da luta, para enfraquece-la, e da tentativa de causar agitação para justificar a repressão. No entanto, ficámos já a saber ao que vem a maioria que hoje (des)governa o país e que, perante a ameaça, teremos de ser ainda mais intransigentes com a defesa da liberdade.
II
Não há dia de semana que seja diferente: de madrugada, bem cedo, começam a formar-se filas à porta do Centro de Emprego de Sintra, que não param de crescer até à hora de abertura. Esta é a imagem que ilustra um país que está a ficar pobre e sem respostas para o crescente desemprego e para a agudização da crise.
Os responsáveis pela situação a que chegámos – os partidos da TROIKA, os banqueiros e quem vive da exploração do trabalho da grande maioria da população, continuam a insistir nas mesmas soluções de austeridade e de empobrecimento, que irão arrastar a economia para o abismo e criar mais dificuldades à população. O que se passa na Grécia e na Irlanda mostra que o caminho escolhido está errado.
Diz-se que quem, como eu, é crítico destas escolhas nunca apresenta soluções. Não é verdade e a recente discussão do Orçamento de Estado para 2012 veio comprová-lo. O Bloco apresentou propostas para responder à crise, gerar receitas através do combate ao desperdício e da taxação dos ricos e dos seus negócios. A sua aplicação permitira receitas para evitar o corte nos subsídios e nos salários, dinamizar o emprego, a economia e a política social. Todas as propostas foram chumbadas, porque PSD e CDS não querem responder à crise pelo lado dos que a sofrem mas sim aproveitar a oportunidade para mudar as regras do jogo em favor de quem domina. E o PS, com a sua tímida abstenção, vai atrás
III
Num dia de temporal, em frente ao museu de arte moderna, uma árvore caiu em cima de uma viatura. Danos materiais, um grande susto e menos uma árvore em zona urbana. Ao lado da árvore que caiu, ficaram duas em pé, que foram prontamente podadas. Uma daquelas podas de que a Câmara de Sintra se devia envergonhar, pois levam tudo menos o tronco. Estas três árvores não foram cuidadas durante anos, mas depois do acidente, as sobrantes foram condenadas a um futuro incerto.
Este não é um exemplo isolado. Dezenas de podas e abates pouco justificados têm vindo a acontecer no Concelho ao longo das últimas semanas. Apesar das podas estarem a ser feitas no tempo certo – no Outono, quando não têm folhas nem pássaros jovens, a técnica de desbaste total, conhecida por atarraque, continua a ser usada. Além de fragilizar as árvores, esta prática é desnecessária e esteticamente condenável.