20.10.11

#1 [Ser duro sem jamais esquecer a ternura]


Cândido Carnero - foto tirada daqui
Há um ano, em Madrid, conheci o Cândido, um sindicalista asturiano com pinta de quem já viu muitas marés. Estivemos ambos numa iniciativa sobre as lutas sociais na Europa. O discurso dele foi teso, de resistência e ofensiva, com uma linguagem da velha guarda. Ouvi-o e conclui estar perante um dos duros, um dos fodidos como lhes chama o Sepúlveda, daqueles que até podem partir mas não vergam.
Depois jantámos junto, a convite da organização do evento. E aí conheci-lhe um outro lado, o da ternura.
Já ao fim da noite, alguém me sussurrou ao ouvido: este foi um dos que inspirou um filme muito conhecido por cá, Los Lunes al Sol. O meu coração bateu mais forte, estava perante alguém que eu não sabia existir na vida real mas que, no início deste conturbado século, foi um dos marcos da minha formação.
Los Lunes al Sol conta uma história de luta em tempo de garrote, numa narrativa construída em torno de dois sindicalistas, personagens inspiradas em Cándido González Carnero e Juan Manuel Martínez Morala, duros sem nunca perder a ternura. É um hino à dignidade de quem trabalha e de quem luta pelos seus direitos. 
Sempre quis rever este filme e, depois desta intervenção indignada (e maravilhosa) da Catarina Martins ontem na AR, decidi que é tempo de fazê-lo.