Por muito que “Bleach”, o primeiro disco, tivesse boas canções,
"Nevermind” foi o momento em que Cobain se deixou ser escritor de canções em
vez de apenas um punk. Ganhou um disco clássico, uma legião de fãs que o via
como um profeta, e depois sucumbiu não sem antes deixar um disco ainda mais
aterrador (e possivelmente o último monumento do rock visceral).
Nunca mais um disco de tamanha violência emocional chegou a
tanta gente. Pode então dizer-se que “Nevermind” mudou a indústria? Não. Pode
dizer-se isto (e nunca é suficiente): que se foda a indústria.
“Nevermind” fez de alguns de nós tábua rasa, obrigou-nos a
começar de novo, mudou-nos a vida ou alertou-nos para brincadeiras perigosas. Mostrou-nos
que se o sol nasce para todos também se põe para todos - e que quando a noite é
escura, é escura como o breu.
O que aconteceu a essa miudagem que abanava a cabeleira ao
som de “Nevermind”? Os dados indicam que trabalha a recibos verdes e conta os
tostões. Não planeia fazer revoluções. Quando ouve falar em mais impostos, encolhe
os ombros e pensa:
“ Oh well, whatever, nevermind.”
João Bonifácio
Ípsilon, 23 de Setembro de 2011