25.9.11

#2 [música no coração]

Por muito que “Bleach”, o primeiro disco, tivesse boas canções, "Nevermind” foi o momento em que Cobain se deixou ser escritor de canções em vez de apenas um punk. Ganhou um disco clássico, uma legião de fãs que o via como um profeta, e depois sucumbiu não sem antes deixar um disco ainda mais aterrador (e possivelmente o último monumento do rock visceral).
Nunca mais um disco de tamanha violência emocional chegou a tanta gente. Pode então dizer-se que “Nevermind” mudou a indústria? Não. Pode dizer-se isto (e nunca é suficiente): que se foda a indústria.  
“Nevermind” fez de alguns de nós tábua rasa, obrigou-nos a começar de novo, mudou-nos a vida ou alertou-nos para brincadeiras perigosas. Mostrou-nos que se o sol nasce para todos também se põe para todos - e que quando a noite é escura, é escura como o breu.
O que aconteceu a essa miudagem que abanava a cabeleira ao som de “Nevermind”? Os dados indicam que trabalha a recibos verdes e conta os tostões. Não planeia fazer revoluções. Quando ouve falar em mais impostos, encolhe os ombros e pensa:
“ Oh well, whatever, nevermind.”

João Bonifácio
Ípsilon, 23 de Setembro de 2011