26.7.11

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Para onde nos leva o caminho escolhido…

Mês e meio após as eleições, as verdadeiras intenções das direitas estão desvendadas: cumprir a receita que a Troika impôs, e que PSD, CDS e PS fingiram negociar, e ir além destas exigências, submetendo a grande maioria da população a um regime de choque e pavor social.

Publicado na Edição nº 28 do Correio de Sintra, 22 de Julho de 2011


O programa do Governo é o da liberalização total da economia, através de alterações das relações de trabalho, redução do Estado Social à caridade mínima e entrega dos sectores estratégicos, como a água, energia ou a ferrovia, à iniciativa privada.

Por esta via, e através de algumas medidas de excepção, PSD e CDS, pretendem pôr os trabalhadores e trabalhadoras a pagar a crise que, durante 30 anos, os sucessivos governos criaram e agravaram. Esboçando tímidas críticas, o PS apoiará, mais Seguro ou menos Assis, o grosso destas medidas.

As mudanças das leis laborais, aprovadas por estes dias, visam quebrar a protecção de quem trabalha, fazendo da precariedade regra única, segundo o interesse de quem quer mão-de-obra submissa, cada vez mais barata e descartável.

O fim do Estado Social, com a privatização da Segurança Social e do Serviço Nacional de Saúde, perseguição a quem cai no desemprego e redução das medidas de apoio à natalidade ou pobreza, vai agudizar desigualdades. Estes sectores, que têm potencial de negócio superior a 30 mil milhões/ano, deixarão de funcionar numa lógica de solidariedade entre gerações e entre pessoas com diferentes rendimentos, para passar a alimentar um mercado de seguros cegos e interesses privados e do sector social.

As privatizações são outra desgraça anunciada. Vejamos um exemplo: a privatização da linha de Sintra acabará com a lógica de comboios que servem as pessoas, centrada nas vantagens ambientais, no direito à mobilidade e na alternativa ao automóvel. O aumento, em Agosto, de 15% nos passes e bilhetes ou o corte de serviços já efectuados são sinais de um prejuízo maior, que iremos sentir quando os comboios deixarem de ser de todos e todas nós.

E as medidas de excepção para responder à crise, vão no mesmo sentido: privilegiar interesses, sobrecarregando a factura de quem menos tem. Quebrando a promessa feita a 1 de Abril, Passos Coelho anunciou cortes no subsídio de Natal. Mas ainda não ouvimos falar de impostos extraordinários à banca ou aos lucros das grandes empresas …

E, apesar da mentira da “repartição dos sacrifícios”, a crise não abranda e os tais dos “mercados” continuam nervosos, a gerar instabilidade e a alimentar a especulação.

É cada vez mais claro que o caminho escolhido não nos levará à resolução dos problemas que o país e a Europa enfrentam. Esta foi, aliás, a principal mensagem que o Bloco procurou passar na campanha eleitoral, acompanhando-a, ao contrário do que muito se disse, de soluções sérias para responder à catástrofe iminente.

O Bloco de Esquerda nunca virou, nem virará, a cara à luta. Não escondemos que os resultados das eleições obrigam a uma reflexão cuidada. Tal reflexão é aberta e, apesar do tom depreciativo com que a imprensa a segue, contribuirá para reforçar a resistência e a reacção à ofensiva social em curso.

O Bloco cá está, em Sintra e no país, para ajudar a forjar as respostas necessárias.

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