[Second Round, a Crónica]

para servir à mesa
Originally uploaded by André Beja
O post de ontem foi de corrida.
Hoje, já em casa e depois de ver as fotografias das fotografias, escrevo com mais tempo.
Fica a história, em episódios, do segundo round, para mais tarde recordar.
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I Como cheguei ao Alinhavar
Muito se tem falado, nas últimas semanas, sobre redes sociais e da sua capacidade de aproximar (e afastar) pessoas, mover opiniões ou catalisar revoluções. Pois bem, a minha história com a fotografia, e esta exposição em particular, também é fruto dessa ligação com o mundo virtual.
Tudo começou com este blog, que alimento desde o tempo em que os blogues eram uma raridade apimentada com html (e o que demorei a aprender a meter-lhe imagens!), depois com o flickr, a minha primeira galeria e, simultaneamente, uma ferramenta de aprendizagem e de “promoção” que até já me proporcionou uma capa de livro. Por fim veio Twitter. O Facebook há-de chegar.
Foi através do Twitter que me cruzei com a Sílvia Alves, que vive em Leiria e leva a vida como escritora e divulgadora de livros. Mais tarde soube que a Sílvia é dona do Alinhavar.
Foi com um mensagem do pássaro azul, um twit de 140 caracteres, que sondei a Sílvia sobre o seu interesse em acolher no Alinhavar uma página da minha tourné. Na resposta ela pedia-me para marcar data.
Até ontem, quando lhe bati à porta, nunca tínhamos falado de viva voz.
II Parem as máquinas…
O plano de trasfega foi elaborado ao pormenor. O H, que vai a Leiria com regularidade, levaria as fotos no domingo à noite, para entrega à Mónica, a minha curadora local (vénias, vénias).
Tudo combinado com uma antecedência que nem parece minha, e eis que, a 24h da maca com a Bárbara para, em pleno dia do senhor (!!??), ir aliviar as paredes do Agito, recebo a informação de que o H-mobile tinha sido vítima de uma incompatibilidade entre as leis da física e as obras da A8.
Desorientação. Desespero. Dourada assada e vinho verde ao jantar, acompanhados da mui Leninista questão: que fazer?
Depois de uma ideia peregrina de cancelar o evento, decidi que talvez pudesse recorrer às ajudas. E como já tinha gasto os 50/50 com a Marijane, preciosa na primeira montagem, tive de me socorrer da ajuda do telefone.
Na hora da verdade, não me faltou o CBS, que em tempos foi alto quadro bancário e agora é, nas suas próprias palavras, Xofer ao serviço da causa.
III A montagem
Estas fotografias não têm ordem específica ou esquema de montagem. Convidam à mistura dos tempos e dos conceitos, às leituras múltiplas e divergentes de quem as vê e, já agora, de quem monta a exposição.
Foi por isso que, quando o Carlos se propôs a agarrar a tarefa, decidi ficar de fora a apreciar o seu trabalho.
Embora nunca o tenha visto fazer este número, logo me apercebi que estava perante todo um ritual: desembrulhar, espalhar pelas mesas, apreciar, fazer a distribuição mental… Seguiu-se um espectáculo de perícia com o material e de procura de soluções técnicas e, em 45 minutos, tudo estava no lugar.
A primeira imagem que tocou a parede, em lugar de destaque, foi a minha favorita. As coincidências acontecem.
IV intervalo para comerciais
Agora tinha de fazer tempo. Ou melhor, tinha de fazer alguma coisa com o tempo que me estava a sobrar.
Aproveitando os primeiros indícios de primavera, confirmados pelo florir das árvores à beira Lis, vagueei pelo centro. Obras, janelas antigas, casas devolutas, arquitectura fascista, casas hipster, cores, texturas, grafitos, lojas e sombras… voltei a fotografar como há muito não fazia (e só por isso é que me dou ao trabalho de escrever este capítulo).
V O jantar
A Sílvia e o Carlos vivem por cima do Alinhavar. Uma casa centenária, com um charme daqueles e livros por toda a parte.
O jantar, em família alargada, era parte obrigatória do programa de festas. Courgettes, feijões, pimentos, arroz, revueltos, salada, codornizes (para apreciadores) e um Rico Homem. A acompanhar, histórias de livros e de bruxinhas, questões (im)pertinentes sobre estados civis e de alma, análise de dados biográficos e biométricos, e mais uns quantos assuntos de reconhecida importância para quem deles se interessar.
O meu guia michelin recomenda a todos os artistas (ou, como no caso, projectos de) que arranjem motivo para fazer qualquer coisa pelo Alinhavar. Nem que seja para poderem desfrutar da simpatia da gerência e da pantagruélica recepção.
VI Enfim, a abertura
De noite, a exposição revelou-se mais parda. Mas estava tudo ali.
Talvez não se tenha ultrapassado a marca das duas dezenas de convivas, mas a conversa esteve boa, a lareira convidativa, o som irrepreensível e o tinto alentejano. Houve também chocolate. Apareceram uns quantos amigos e amigas da casa, alguns convidados da curadora local, um companheiro de grandes lutas e outras personagens avulsas.
Apesar de menos concorrida, desta vez tenho um quinto de página na Agenda de Cultura local.
Me aguarde...