[é isto mesmo...]
A minha estação de metro chama-se Patriotismo. Também há estações chamadas Niños Heroes, ou Constitución de 1917, além, claro, das que têm o nome de algum figurão desde os aztecas (Cuauhtémoc, Guerrero, Hidalgo, Juárez, Piño Suaáez...) os nomes mexicanos de ruas, cidades ou estações são, em si, patrióticos. E depois as estações como esta têm bancas de fritos e índios de chinelos.
Então desço as escadas, como se descesse ao submundo dos aztecas de agora, os incontáveis milhões que percorrem todos os dias as entranhas da cidade e, quando a corrente espessa me apanha, deixo-me ir, sem pé. Um místico chamaria a isto o êxtase da dissolução. A humanidade a convergir debaixo da terra, pele com pele.
Aqui faz calor e a religião não tapa. Os mexicanos têm muito corpo, sempre a sobrar.
E há ventoinhas que nos borrifam com água. Os letreiros são dos anos 70, descomunais. As bichas para os bilhetes desfazem-se num ápice. Cada viagem custou 18 cêntimos, e é porque aumentou este ano. O cais reluz de limpo, parece interminável e em menos de dois minutos fica repleto.
Nunca me senti tão alta entre tantas cabeças escuras, índios ou misturados de índios: os pobres. Só tenho uma palavra, e repito-a atónita, porque não me lembro de ter sido levada assim de enxurrada por um país. Comovente. O México é comovente. Se alguém falar comigo agora desato a chorar.
Alexandra Lucas Coelho, in Viva México