30.1.11

#1

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Nicola ensinou-me o mar sem dizer: faz-se assim. Fazia o assim e o assim estava certo, não apenas preciso mas também belo de ver, nunca à toa. O assim de Nicola tinha o jeito das ondas, os gestos tinham uma rima que eu ia aprendendo a entender. Cortava as potas em bocados do tamanho de unhas: um corte e a seguir passava as costas da faca para os afastar para o lado, seguindo um ritmo seu, absorto, igual. (…). Ele podia olhar para outro lado, o longe, ou nada; os olhos deixavam as mãos fazer tudo sem ajuda. O trabalho era aquilo, o que se via, enquanto o resto do corpo era apenas um arrimo de paciência.

Erri de Luca

in Tu, Meu