21.11.09

#1 [Acordai**]

VOZ

Na sua aparente invisibilidade, a precariedade está em muito do que são as nossas vidas, por detrás dos pequenos gestos do dia a dia, como aquele SMS onde dizemos do amor, da comida que nos mitiga a fome ou da roupa que conforta.

A precariedade está também na cultura. Não só no trabalho de quem a faz, como na lógica que procura determinar a sua produção.

Foi em defesa da cultura que se levantou um amplo movimento de contestação a uma alteração legal promotora da elitização, e consequente precarização, do ensino da música. O momento mais visível desta onda foi uma manifestação em frente à Assembleia da Republica, em Fevereiro de 2008.

Foi o protesto mais belo onde alguma vez estive. As massas trabalhadoras eram agora um coro, uma orquestra, um naipe, uma turma de iniciação. No meio de cartazes e pancartas, violinos, violoncelos e um piano. Por entre palavras de ordem, claves de sol.

A substituir os discursos inflamados, a música. Ainda hoje consigo ouvir o eco daquela heróica de Lopes Graça que, no conforto do sol invernal, a todos e todas incitava... Acordai!


** Este texto e esta foto são um contributo para a campanha Recibos Verdes: antes da Dívida temos Direitos