21.12.08

#1
[os operários]
No fio da memória - vozes e rostos dos operários
da fábrica da Pólvora de Barcarena

Fotografia de Autor sobre uma das imagens da Exposição

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Os operários vestiram os seus fatos domingueiros e levaram os netos e as memórias a passear.

- Não és tu quem estás ali?

- Maria, aquele é o teu pai!

- Olha, vês aqui? É o avô Malheiro.

Rapazes e raparigas de outros tempos foram o centro das atenções. A fábrica encheu-se e eram as suas vidas que contavam para quem, entre eles, circulava.

- Aqui era a sala de enchimento.

- Está tudo tão diferente… o espaço ficou muito bonito depois de ser limpo.

Histórias antigas, dos que sobreviveram à explosão e de quem já não a pode recordar.

- Este é o Sr. João, este é o Manel, o ti Zé, o Afonso da Mira… já cá não está nenhum.

Trabalhadores especializados ou serventes, a família inteira viveu da fábrica. Era perigoso, mas garantia a segurança de um salário fixo.

- Vocês são raparigas novas, não sabem como a vida foi dura para nós. Ganhava 18 escudos, uma miséria.

Vinham para o vale a pé e de bicicleta. Moravam em Queluz de baixo, Barcarena, S. Marcos, da Agualva, Rio de Mouro e em tantos outros sítios.

No sol de Inverno, os dedos retorcidos acariciaram-se nas fotografias.

Riram orgulhosos de se verem na televisão. Os operários estavam contentes.


Sintra, 21 de Dezembro de 2008