15.5.08

Duas catástrofes, duas respostas muito diferentes

Fernando Sousa, Público, 15.05.

Sismo na China, ciclone na Birmânia. Duas catástrofes naturais, e vizinhas, com poucos dias de diferença e milhares de mortos e desaparecidos, mas com respostas muito diferentes. As autoridades chinesas correram para as vítimas e abriram-se à ajuda internacional, as birmanesas, suas aliadas, mostraram displicência.

Para acorrer ao terramoto que arrasou cidades, matou e sepultou milhares de pessoas em Sichuan e regiões limítrofes, o Governo de Pequim mobilizou recursos cujo nível diz tanto da tragédia como da vontade em minorá-la. Convocou a polícia e as forças armadas. Chamou médicos enfermeiros. Anunciou verbas excepcionais para as zonas afectadas.

Quando o silêncio em Wenchuan, epicentro do terramoto, sem comunicações, se tornou insuportável, fez chegar, a pé, 200 polícias, que prestaram os primeiros socorros. Mandou para a zona uma equipa de 1300 médicos e enfermeiros militares. Abasteceu de alimentos por pára-quedas populações isoladas. Enviou cem mil militares para o terreno, onde se calcula que dezenas de milhares de pessoas agonizem sob os escombros de casas, escolas ou fábricas. A terra tremeu às14h30 de um dia de trabalho.

Só ontem as autoridades chinesas promoveram a maior operação de transporte aéreo de socorros num só dia. Voos: 79. Soldados enviados: 11.500. Ainda assim, o primeiro-ministro, Wen Jiabao, que dirige as operações em Dujiangyan, uma das cidades feridas, estava impaciente com a "lentidão" das coisas, escreveu a AFP.

Às ofertas de auxílio do mundo, Pequim continuou a dizer que sim. O Presidente Hu Jintao, contactado por telefone pelo homólogo norte-americano, George W. Bush, aproveitou para dizer que o Tibete é uma questão "interna" do país, mas não recusou os seus 500 mil dólares de ajuda. E está à espera de um avião francês, entre outros, cheio de alimentos e medicamentos.

Na Birmânia, que viu metade do país arrasado pelo ciclone Nargis, catástrofe em que 62 mil pessoas morreram ou desapareceram e dois milhões estão sem nada, e que a própria China pediu que se abrisse aos socorros, a atitude é a contrária. Os socorros demoram e a solidariedade é recusada.

Em resposta às ofertas internacionais, a junta militar no poder desde 1962 barrou a entrada a peritos com experiência na gestão de catástrofes. O embaixador britânico nas Nações Unidas, John Sawers, considerou "admirável" a prontidão da resposta governamental na China, e "muito, muito diferente" a da Birmânia.