22.5.08

#1
[eu não fui...]

Para quem gosta de efemérides, fiquem sabendo que faz hoje dez anos que abriu a expo 98. O tempo passa.
Devo ter sido das poucas pessoas que não foi à Expo por opção (por falta de dinheiro houve muitos de certeza). Desagradavam-me as desigualdades em que assentava o evento e que iam contra a filosofia - os desalojados que, anos depois, ainda viviam em condições miseráveis, a cultura a preço exorbitante, a oportunidade de enriquecimento fácil, a operação de especulação imobiliária que se preparava... Em resumo, a histeria em torno dessa obra do regime afrontava-me.
Uns dias antes da abertura, no ensaio geral, os telejornais abriam com Jorge Coelho e António Vitorino abraçados dizendo que "somos um grande país". Era o tempo das vacas gordas. Todas Guterristas, claro está.
Olhar o país, dez anos depois e com os herdeiros do Guterrismo no poder, é um exercício interessante.
O atraso estrutural não foi ultrapassado.
A riqueza continua mal dividida e os negociatas continuam a fazer-se.
A privatização do ensino, denunciada pel@s estudantes à porta da exposição no dia da abertura, avança a todo o vapor.
O trabalho precário, que nesse verão foi pago a peso de ouro, é agora mal pago e regra.
A cultura do país, ou melhor, de Lisboa, ganhou outro animo, mas nunca mais teve a pujança desse verão.
O recinto do certame é uma das zonas mais aprazíveis de Lisboa, com uma arquitectura fascinante e uma relação privilegiada com o rio. No entanto, a especulação imobiliária continua.
Há uma grande cidade dentro da cidade, sendo a falta de equipamentos um dos grandes problemas que enfrenta.
Os espaços de estacionamento estão, progressivamente a ser substituidos por torres cuja sombra priva de sol muitos metros de rua.
O Pavilhão do futuro, suprema ironia, virou casino e o espólio de muitos outros foi perdido.

Enfim... Não fui e não me arrependo.