6.1.08

#1
[outside is America]

Nos últimos dias várias têm sido as teorias dos comentaristas da nossa praça para explicar os bons resultados obtidos por Barak Obama, em contraste com a derrota de Clinton, no Caucus do Iowa: simpatia, franqueza, empenho, questões meteorológicas ou capacidade de mobilização são frequentemente apontados como tendo sido determinantes para um desfecho que é encarado com surpresa.

Este não é o meu campeonato, mas não deixa de ser interessante acompanhá-lo de perto.

O naipe de candidatos do Partido Democrático é completamente atípico. Os quatro primeiros classificados no Caucus são tudo aquilo que nunca esteve no currículo de um potencial ganhador das presidenciais: Uma mulher, casada com quem se sabe e com a fama de, em tempos, ter proposto à América um sistema de Saúde apelidado por muitos como socialista (!!??); um jovem negro filho de um imigrante e com raízes muçulmanas; um esquerdista, dentro do padrão; e um hispânico, cuja comunidade de origem, apesar de só ter eleitos a um nível mais secundário, constitui uma percentagem larga da população americana e tem bastante peso eleitoral (determinante na eleição de W. Bush).

O resultado de Obama foi, a todos os níveis, espantoso, até porque falamos de um estado interior, agrícola e com uma população 95% branca. Mas só surpreende quem não percebeu os sinais da onda que se tem vindo a levantar em torno deste homem, que, com a sinceridade e a coerência demonstradas em temas como a Guerra do Iraque, tem conseguido mobilizar a opinião pública de uma forma que muitos não julgavam possível.

No Final de Março de 2007 estive em Nova Iorque. Não tive qualquer contacto com as candidaturas, mas sentia-se something in the air. Os jornais davam ecos de algo inesperado: na corrida à recolha de fundos naquele estado. Embora não sendo um estado representativo da mentalidade do povo americano, aquele era tido como um bastião dos Clinton, onde a única sombra que poderia empalidecer o brilho da Senadora Hillary seria a do Republicano Giuliani, graças ao prestígio ganho por este nos meses que se seguiram ao 11 de Setembro. Mas foi aí que Obama garantiu o passaporte financeiro e político para a sua candidatura, juntando donativos e dividindo os apoios da base democrata de uma forma que ninguém apostaria que viesse a acontecer. O comício que fez na cidade na segunda semana de Abril foi apoteótico.

Vejamos o que acontece no New Hampshire no próximo dia 8.