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[londres]
6 explosões, numero de mortos e de feridos indeterminado, pânico.
As razões são desconhecidas, talvez sejam as de sempre.
À barbarie do terrorismo de estado que ocupou o iraque e o afeganistão, que tem o mundo a saque, que se permite fazer caridade e continuar a colonizar o chamado terceiro mundo através da exigência de privatização dos serviços públicos ou da exploração dos recursos, os autores deste atentado respondem com a guerra sem quartel. Injustificável, inaceitável, intolerável.
Estive em Edimburgo por estes dias, participando nas actividades alternativas à cimeira do G8. Fui à grande marcha make poverty history, que juntou 220 mil pessoas nas ruas daquela cidade na exigendia de um mundo gerido por outras regras, e que foi completamente abafada pelo show off mediatico do live aid/8, a caridadezinha que Bono Vox e Bob Geldof promoveram.
Fui à cimeira alternativa. Ouvi, entre outros, a mãe de Carlo Giuliani falar da importância da educação, da maneira como as mães e os professores devem educar as crianças para as escolhas e para a luta, de modo a que não sejam pisados pelos mais fortes.
Estive no grande carnaval contra a precariedade e a miséria promovidas pelas grandes organizações financeiras do mundo, do qual apenas se ouviram ecos de violência - existiu muita, especialmente porque a polícia a provocou.
Fui a Dungavel exigir o encerramento de um centro de detenção de imigrantes. É um lugar lindo, no meio do verde. Mas ali há centro de detenção que, em termos de direitos civis, não está muito longe de guantanamo. manifestei-me ao lado de pacifistas, de anarquistas violentos, de velhinhas amorosas, de imigrantes de todo o mundo, de miúdos de todas as acores, de deputados de vários parlamentos, de gente que quer, apenas, encerrar estes campos de concentração que~são cada vez mais comuns na Europa de Schengen.
Não estive ontem em Glenneagles, mas gostava de ter estado.
O meu cabelo comprido, a barba e tez morena deixam qualquer policia nervoso, pelo que, ao abrigo da secção 60 da lei antiterrorista, fui filmado, fotografado, interrogado e olhado com desconfiança. Não promovi nem promovo a violência gratuita em manifestações, não defendo a luta armada contra civis indefesos, seja em londres ou no iraque, promovida por terroristas ou pelos exercítos das democracias ocidentais. Mas fui violentado por um sistema que só admite dois tipos de gente: os que estão do seu lado e os que, não estando, estão ao lado dos sanguinários que hoje fazem as notícias.
Não estou em nenhum dos lados. Luto com ética por outro mundo, possível e necessário, onde a exploração dos homens e das mulheres pelo sistema e pelos seus iguais não exista, onde a discriminação seja uma miragem, onde a utilização dos recursos seja racional e justa, onde o lucro de alguns não se sobreponha às pessoas e ao colectivo. Luto ao lado de gente séria que não se revê no mundo em que vivemos, que propõe alternativas e se bate por elas. Luto ao lado da Senhora Heidi Giullianni, que fala sempre de voz embargada mas não baixa os olhos.