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[Continuas assim...]
e o José Manuel Fernanades ainda acaba por mandar o teu retrato para o Largo do Rato.
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Mais do que esperança, o que os portugueses sentem, desde 20 de Fevereiro, é uma sensação de alívio. Sócrates pode governar bem ou mal, mas ninguém espera dele uma atitude de leviandade, enquadrada por uma constante e primária cobertura de propaganda e promoção da imagem.
Apesar deste nenhum tempo decorrido, há já quem reclame que os colunistas que antes criticavam Santana Lopes comecem já a fazer o mesmo com Sócrates, abolindo, como o fizeram com Santana, o tradicional período do "estado de graça". E, mais curioso ainda, até há quem o tenha já começado a fazer, com medo de que lhe chamem incoerente. Pois eu, que não só não respeitei o período de graça, como até comecei a criticar o Governo de Santana antes mesmo de ele ter tomado posse, não enfio o barrete. Porque as diferenças são, à partida, abissais: Sócrates não é Santana, e esse é o ponto essencial. O homem que escolhe os cargos políticos de acordo com as suas conveniências pessoais não merece dúvida nem condescendência - ou então acabemos com o choradinho sobre a falta de categoria da classe política. Por outro lado, Sócrates foi eleito por metade dos portugueses, e Santana foi cooptado, e também por razões de interesse pessoal, por aquele que eu, pessoalmente, considero o mais vazio e o mais profiteur de todos os políticos portugueses contemporâneos: Durão Barroso.
As tentativas de encontrar, desde já, terreno para atacar o Governo de Sócrates, de tão esforçadas, tornam-se ridículas. Vítor Constâncio abre a boca, defendendo impostos sobre o sector automóvel e, apenas porque é socialista, toda a gente toma as suas palavras como uma declaração do Governo, passando logo a criticar a "medida governamental". O ministro das Finanças diz uma coisa perfeitamente banal - que, se não se conseguir conter a despesa pública, será fatal aumentar impostos - e os mesmos que criticaram o descontrolo do défice, as manobras de encobrimento, como a expropriação das reformas dos pensionistas da Caixa Geral de Depósitos, ou o célebre discurso do "milagre das rosas" de Santana Lopes (aumento dos salários e das pensões, descida dos impostos), e que exigiram uma "política de verdade", caem-lhe em cima, como se ele fosse obrigado, em alternativa, e descobrir jazidas de ouro ou poços de petróleo.
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Miguel Sousa Tavares, in Publico 18 de Março 2005