15.8.04

#3
[uh, ah, Chavez no se và]


Nao sou um admirador incondicional do populista Hugo Chavez, presidente da Venezuela. No entanto, devo admitir que a sua revoluçao bolivariana, além de fazer tremer os poderes da oligarquia estabelecida naquele pais, tem aumentado os niveis de democracia de base, permitindo aos 80% de populaçao pobre - de um pais que é o 5o produtor mundial de petroleo - acesso gratuito a bens como saude e educaçao, fornecendo-lhes também intrumentos legais e materiais que permitiram um desenvolvimento do associativismo, do micro-credito e de um plano de reforma agraria.
Nao acredito nos milagres nem nos paraisos terrenos. A Chavez e a quem o segue haverà muito que apontar. No entanto quem tem apontado o dedo é quem nao pode com a ideia de que @s pobres podem ter direitos e acesso a um minimo de dignidade através do estado social, financiado pelos lucros obtidos pela nacionalizaçao do petroleo: as confederaçoes patronais, a burocracia sindical comprometida com a corrupçao, os partidos que, nos ultimos 40 anos, dividiram entre si o poder, a aristocracia, os média privados, a hierarquia da igreja catolica (que persegue os padres que, no terreno, tem feito a ponte entre os programas sociais do governo e as comunidades), a extremna direita e alguma esquerda também, todos metidos numa "coordenadora democràtica" que parece nao querer mais do que tirar Chavez do poder, evitando sempre falar do dia que se segue - tanta simplicidade e abnegaçao vinda de algumas destas figuras (muitas delas directamente relacionadas com o golpe de estado de 2002) até é de estranhar.

Hoje referenda-se na Venezuela a continuaçao ou nao, do mandato de Chavez, que vai até 2006. Este facto constitui, por si so, uma novidade no panorama da democracia mundial... que outra constituiçao permite referendos revogatorios dos altos cargos politicos? so esta, cuja elaboraçao foi conduzida pelo governo de Chavez e aceite por larga maioria da populaçao em referendo - parece que os opositores do presidente também se agarram a ela com unhas e dentes, reconhecendo-lhe valor de lei.

Para derrotar Chavez, os defensores do SI tem de obter mais um voto que o numero total dos votos da ultima eleiçao presidencial, pouco mais de 3 milhoes de votos. A campanha foi animada, até meteu telenovelas à mistura - a chamada novela venezuelana. Acabou com cortejos de milhoes, a favor e contra, nas ruas de Caracas. Os do SI, apoioados abertamente por Collin Powell (isto é, pelos EUA), ja falam em fraude... As sondagens na Venezuela dizem que a vitoria do SI é segura, mas a maior agencia de sondagens da América do Sul diz o contrario, e esta nao tem relaçao com nenhuma das partes.

Neste contexto, um grupo de pernsolidades de renome mundial, como Chico Buarque, Eduardo Galeano, Ken Livingstone (Mayor de Londres), Bernard Cassen (director do Le Monde Diplo)ou José Bové, entre muitos outros, decidiram dar um apoio internacional a Chavez, assinando um documento onde declaram que, face ao respeito demonstrado pela democracia e pela constituiçao venezuelana e à manifesta intervençao dos EUA em toda este processo, se foseem venezuelanos votariam NO.

Tenho lido muito sobre todo este processo no IL Manifesto, e a informaçao obtida parece nao ter nada a ver com a que, por exemplo, o DN de hoje dà. Mas é uma informaçao que bate certo com a dada por alguns amigos que acompanham de o processo in loco... por tudo isto, quando penso no dia de amanha, espero que os resultados sejam festejados com o slogam que vem das favelas de Caracas... Hu ha, Chavez no se va!