30.3.04

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depois de, no principio do mês, ter assistido, estupefacto, à conferencia que duas associações próvida organizaram na assembleia da republica, hoje encontrei, no publico, alguma arguemntação que desmente com credibilidade o que ali foi dito.
nareferida sessão, dois reputados cidadãos estrangeiros (um advogado e uma dita "cientista" vieram tentar convencer os presentes de algo que parecia ser uma enorme fraude.
esta fraude antevia-se não pela associação que faziam, que até poderia ser verdadeira, entre o aborto e cancro, mas pela argumentação fraca e diabolizante que ali se utilizou. os convidados apresentaram estudos que comprovavam claramente a situação e que representavam tudo o que as mulheres precisavam de saber para não abortarem. estudos esses, que foram levados a cabo na austrália nas décadas de 70 e 80 e que, pelo seu baixo nivel cientifico, nunca foram publicados em nenhuma revista cientifica daquele país, só tendo visto a luz do dia numa manhosa revista francesa em 1995.
sobre artigos como o que aqui reproduzo, os senhores em questão dirão ser este mais um complot da industria abortista, que um deles tem vindo, ao bom estilo americano, a processar consecutivamente nos últimos anos.
resta ainda dizer que estes artistas se diziam defensores da lei irlandesa - aquela que proibe todo e qualquer aborto, mesmo em casos de violação e mal formação.
fica então um pouco de luz neste obscurantismo próvida.


Aborto Não Potencia o Cancro da Mama
Por CLARA BARATA
público, 30 de Março de 2004

Abortar não aumenta as possibilidades de vir a sofrer de cancro da mama mais tarde. Os cientistas já não tinham grandes dúvidas em relação a esta afirmação, mas este argumento surgia frequentemente, usado por organizações que se opõem à interrupção voluntária da gravidez - algo que aconteceu ainda este mês em Portugal. Agora, um grupo de cientistas relata na revista médica "The Lancet" que, após analisar 53 estudos que envolveram 83 mil mulheres em 16 países, não encontraram indícios dessa relação.

Foi a primeira vez que se compararam todos os estudos que se debruçaram sobre essa alegada ligação, sugerida na década de 70, e que foi analisada a metodologia usada. Os estudos melhor concebidos, concluiu o grupo liderado por Valerie Beral, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, não detectaram uma relação entre o aborto e o aumento do risco de vir a sofrer de cancro da mama. Mas os estudos mal concebidos - com perguntas que influeciavam a resposta, ou feitos com mulheres que tinham já cancro da mama - encontravam por vezes essa relação.

"Nunca ninguém tinha podido fazer isto. Tivemos acesso aos dados originais e podemos analisá-los com critérios iguais para todos. Podemos dizer de forma definitiva que o aborto, seja espontâneo ou provocado, não aumenta o risco de vir a sofrer de cancro da mama", disse a investigadora da Unidade de Epidemiologia do Centro de Investigação sobre o Cancro de Oxford, citada pela agência Reuters.

"O que a nossa análise mostrou é que há uma série de trabalhos que não são fiáveis. O que se sugere é que pode haver uma ligeiríssima redução no risco de sofrer de cancro da mama para quem fez um aborto", sublinhou Beral, que coordenou os trabalhos da equipa que se identifica como Grupo de Colaboração na Investigação sobre os Factores Hormonais no Cancro da Mama. Entre estes investigadores encontra-se Richard Doll, que na década de 50 relacionou o tabaco com o cancro do pulmão.

Os resultados foram apresentados sob a forma do risco relativo - um método estatístico que compara as possibilidades de vir a sofrer de cancro da mama de mulheres que já fizeram abortos com que as que nunca o fizeram. Se o risco relativo tiver um valor inferior ou igual a 1, isso quer dizer que é nulo, que não existe. E o estudo publicado na última edição da "The Lancet" aponta para um risco relativo de vir a sofrer de cancro da mama de 0,98 para as mulheres que tiveram abortos espontâneos e 0,93 para as que tiveram abortos provocados.

Os estudos considerados de má qualidade eram aqueles que os activistas antiaborto têm citado ao longo dos anos. Perguntavam a mulheres que já sofriam de cancro da mama se já tinham feito um aborto; mas era mais provável que estas mulheres revelassem ter abortado do que mulheres saudáveis, porque procuravam perceber por que é que tinham a doença. Isto enviesava as respostas, disse Beral.

Os estudos mais bem feitos, que não dependiam da memória ou de relatos feitos pelas doentes, depois de lhes ter sido diagnosticado o cancro, acompanhavam um grupo de mulheres ao longo de vários anos, registando acontecimentos relevantes para a sua saúde, como um aborto ou o surgimento de tumores na mama. Ou então foram considerados fiáveis registos oficiais de casos de cancro da mama e de abortos em países como a Suécia.

Revelador foi verificar que consoante o tipo de estudo, os resultados eram bem diferentes.