30.6.03

nestes dias em que o meu ritmo circadiano anda às voltas consigo mesmo, só me vem à cabeça a canção dos REM...

I see today with a newsprint fray
my night is colored headache grey
don't wake me with so much.
daysleeper.

I cried the other night
I can't even say why
fluorescent flat caffeine lights
its furious balancing

29.6.03

“ Os tremores de terra, dizem os cientistas, são fenómenos frequentes. Falando de todo o globo, registam-se uns quinze mil sismos por década. A estabilidade é que é rara. O anormal, o extremo, o operático, o extravagante: eis a regra. A vida normal é uma coisa que não existe. E, no entanto, é dela que precisamos, da casa que construímos para nos defendermos do lobo mau da mudança. E se, no fim de contas, o lobo é a realidade, a casa é a nossa melhor defesa contra a tempestade: chamemos-lhe civilização. Construímos as nossas casas de palha ou de tijolo não só contra a vulpina instabilidade dos tempos mas também contra a nossa natureza predatória; contra o lobo que temos dentro de nós.
Este é um modo de ver. Uma casa também pode ser uma prisão. Os grandes lobos (perguntem a Mowgli, a Romulo e Remo, a Kevin Costner, não temos de acreditar sempre nos 3 porquinhos) não são obrigatoriamente maus. (...)”

Salman Rushdie, In “O chão que ela pisa ”

28.6.03

"Parecera o começo da felicidade, e às vezes, passados mais de trinta anos, ela ainda se sente chocada ao dar-se conta de que foi felicidade, de que toda a experiência se encontra num beijo e num passeio, na previsão de um jantar e de um livro. O jantar foi, entretanto, esquecido; a Lessing foi há muito ofuscada por outros escritores, e até o sexo, depois de ela e Richard terem chegado a esse ponto, foi ardente, mas embaraçoso, insatisfatório, mais aprazivel do que apaixonado. O que continua a viver, intacto, na memória de Clarissa, decorridads mais de três décadas, é um beijo no crepúsculo, num retalho de erva seca, e um passeio à volta de uma lagoa, enquanto zumbiam mosquitos no ar que escurecia. Ainda permanece nessa perfeição singular, e é perfeição, em parte, porque pareceu, na altura, prometer tão claramente mais. Ela agora sabe: esse foi o momento, exactamente esse. Não houve nenhum outro."

Michel Cunniigham, in As Horas

27.6.03

um poema de Jorge de Sousa Braga para quem andar por aqui a navegar

Afluentes

Que sabe un rio dos seus afluentes? E os afluentes dos subafluentes?
E estes dos pequenos regatos da montanha? Os rios não têm memória.
(Embora digam que a memória é um rio.)

Têm água. E nós sede.

26.6.03

adormecer a pensar nisto...
acordar radiante porque parece existir...
sobressaltar-me só de pensar...
correr para o computador e nem ligar o email e as páginas de sempre...
blogopaixão?
bom... parece que isto funciona

Metrografismos


1

A solidão é
um copo de plástico
amarelo-vazio e
três notas festivas
num acordeão
melancólico

2

Semioptica do desejo:
letras vermelhas em
constelação repetitiva,
modelando a comunicação
na noite dos túneis

3

Cidade que rodopia
nas próprias entranhas
Não olhar de frente
os estranhos
é regra para que
não se faça luz
sobre o que somos


4

clic
um poema
sem métrica
uma imagem de nada
que se faz no metro

André