“ Os tremores de terra, dizem os cientistas, são fenómenos frequentes. Falando de todo o globo, registam-se uns quinze mil sismos por década. A estabilidade é que é rara. O anormal, o extremo, o operático, o extravagante: eis a regra. A vida normal é uma coisa que não existe. E, no entanto, é dela que precisamos, da casa que construímos para nos defendermos do lobo mau da mudança. E se, no fim de contas, o lobo é a realidade, a casa é a nossa melhor defesa contra a tempestade: chamemos-lhe civilização. Construímos as nossas casas de palha ou de tijolo não só contra a vulpina instabilidade dos tempos mas também contra a nossa natureza predatória; contra o lobo que temos dentro de nós.
Este é um modo de ver. Uma casa também pode ser uma prisão. Os grandes lobos (perguntem a Mowgli, a Romulo e Remo, a Kevin Costner, não temos de acreditar sempre nos 3 porquinhos) não são obrigatoriamente maus. (...)”
Salman Rushdie, In “O chão que ela pisa ”