28.11.03

sobre o filme de ontem escrevi...

há, entre o branco e o preto, uma gama de cores de matizes, que importa explorar.
esta é a ideia que Julio Medem - que realizou, entre outros, vacas (1992),e os amantes do circulo polar (1998) - procura explorar, aplicando-a a uma realidade que alguns tentam ocultar: o conflito social, político e armado em Euskal Herria (pais basco).
este filme/documentario é um convite ao dialogo, diz-nos um realizador que, apesar da sua origem basca, nega qualquer simpatia com a violência ou tendencia nacionalista (na verdade, vive fora do pais basco, em madrid, há cerca de uma decada). um convite ao dialogo que é posto em cima da mesa, projectado na tela, na forma de dezenas de intrevistas a homens e mulheres que se encontram nos diversos cumprimentos de onda deste espectro que varia entre o preto e o branco, desde vitimas da ETA (sobreviventes ou familiares) a familiares dos presos, passando por distintos membros do PSOE e dos partidos de Euskal Herria. pode-se também ouvir aqui o testemunho daqueles e daquelas que sofreram tortura policial, de policias que falam da sua vida diária, escutar o que têm a dizer a amnistia internacional,l as associaçoes de apoio às vitimas, artistas, intelectuais, psicologos, sociologos, jornalistas, historiadores, e até padres - com o testemunho do clero basco e de um padre irlandês, directamente envolvido nos acordos de paz da irlanda do norte.
de fora ficam as razoes da ETA, que acabam por ser analisadas pela esquerda aberzale (nacionalista), e o partido popular de aznar, que se auto-excluiu deste documentario - chegando mesmo a procurar um caso politico à sua volta, insistindo numa ligaçao directa entre o "on" da camara digital e o gatilho de uma qualquer pistola. entre isto, há homens e as mulheres que acendem mais algumas luzes sobre um conflito que, contrariamente ao que aznar tenta vender, esta longe de ter uma resoluçao.
a diferença de opinioes é a principal riqueza de um documentario que olha para o pais basco de hoje, para a sua historia e para as alternativas que se lhe abrem, existindo, por parte do autor, uma tentiva de equilibrio e auto-regulaçao: o terrorismo da ETA é posto lado a lado com o terrorismo do estado espanhol, que se manifesta, por exemplo, pela repressao de todo o nacionalismo, pela tentativa constante de monopolizar a informaçao e de criar um sentimento maniqueista do género "ou estas com a nossa democracia ou com a pistola da ETA"... branco ou negro.
e esta diversidade de opinioes acaba por revelar algumas ideias comuns, tais como o facto de nao existir soluçao para o conflito que nao passe pelo diálogo, sendo este sistematicamente recusado pelo pp - partido que tem levado a cabo uma politica de diabolizaçao dos seus opositores para manter o status quo, para se manter no poder e para justificar (e disfarçar) as suas politicas neo conservadoras que transbordam franquismo.
vi-me perante um documento inquietante, até porque as questoes que aqui se levantam nao se restringem ao eixo politico madrid/euskal herria, sao questoes que se levantam sobre este tempo de guerra infinita e sobre o mundo em que vivemos.